UNIÃO EUROPEIA: A GUERRA QUE POR AÍ PODE
CHEGAR,
por Rodolphe Pourrade
Selecção, tradução e introdução por Júlio Marques Mota
Introdução
Queremos chegar ao fim da série sobre a Europa a caminho dos anos 30. E neste sentido que se entende a publicação deste pequeno texto, uma espécie de retrato ou de panorâmica sobre a Europa de agora . Seguir-se-lhe-á sobre este mesmo tema, a Europa a caminho dos anos 30, um texto assinado pela revista The Economist, um texto de Fabius Maximus, um texto de Eichengreen e de Brad Delong, dois textos sobre a decomposição do Comecon e a magia do sistema Target II utilizado pelo BCE, uma espécie de revivalismo dos tempos da União Soviética, um texto de Brunet sobre a internacionalização do yuan como refinanciador de última instância, o que não são já os americanos hoje e o que a Alemanha também não quer ser. Esta situação, é Eichengreen e Brad Delong que no-la lembram, não deixa de ser equivalente ao que se passou nos anos 30, a largar o padrão ouro e sem Bretton Woods ainda.
Como parte final desta série editaremos um grande artigo de fundo de Brad Delong sobre os anos 30 e um outro sobre o neoliberalismo, Hitler e a Europa de hoje, disponível num site de matriz católica, L’Espoir.
Para já a panorâmica sobre a Europa.
Júlio Marques Mota
União Europeia: a guerra que por aí pode chegar
Rodolphe Pourrade – Mediapart – 26 de Fevereiro de 2013
O que é que a União Europeia nos dá a ver sobre a sua situação económica e social: uma panorâmica de vários Estados membros
1. Bulgária
Enormes manifestações levaram à queda do seu governo, de orientação centro-direita. A origem do movimento não poderia ser mais dramática: o aumento das tarifas de electricidade e do gás. As necessidades básicas já não estão a ser satisfeitas. Dezenas e dezenas de milhares de pessoas inundaram as ruas das principais cidades do país. Apesar da renúncia do primeiro-ministro as manifestações continuaram.
2. Roménia
A situação política é das mais tensas possíveis. Um grande diferendo opõe o Presidente e o seu primeiro-ministro liberal. No ano passado o país tinha tido também grandes manifestações que deram origem a uma grande crise política: Băsescu, o Presidente foi repudiado nas urnas de voto e o seu futuro político é incerto. Enquanto isso, a Comissão Europeia apoia-o e isto porque ele faz parte do mesmo grupo político, o PPE, que o Presidente da Comissão, Durão Barroso.
3. Grécia
Não há necessidade de nos alargamos sobre este país completamente desfigurado e politicamente desmembrado pela Tróica onde o presidente francês F. Hollande pediu aos grupos económicos franceses para participar da partilha dos restos mortais da falecida Grécia. A Grécia terá este ano o seu sexto ano consecutivo de recessão económica, com os problemas migratórios politicamente no seu máximo de tensão, com a Cruz Vermelha a afirmar que se a Grécia se vai deparar com uma diminuição do volume de sangue destinado a Grécia devido ao volume dos valores que não têm sido pagos , a Grécia tem igualmente a décima primeira greve geral que teve lugar na semana passada. Politicamente, um governo de coligação às ordens da Troika mantém-se no poder mas sem qualquer legitimidade popular. O partido socialista, o Pasok, está completamente desacreditado. O caos reina em Atenas.
4. Chipre
A Grécia em ponto mais pequeno . O país está a debater-se contra uma recessão profunda. A situação é muito preocupante, o país está à beira da falência. E, aquando das eleições os homens que estavam no poder foram derrotados como tem acontecido nos outros países da União Europeia. O novo presidente está de acordo com a UE e deve rapidamente pôr em marcha uma política de rigor num país onde a recessão prevista para o ano corrente é da ordem de 3,5%. Os países europeus parecem estar de acordo em utilizar métodos diferentes dos que foram aplicados na Grécia, para tentar colocar a pequena ilha à tona de água.
5. Espanha
O governo de direita de Rajoy está completamente ultrapassado pela crise. Profundamente mergulhado em casos de corrupção, ele tem que enfrentar colossais e repetidos protestos nas ruas das grandes cidades. No sábado, centenas de milhares de pessoas participaram numa maré de ” cidadania ” nas ruas da capital. A Catalunha teve, pelo seu lado, manifestações monstras no final do ano passado e a pensar já em se avançar para a independência. Mais de 1 milhão de pessoas reuniram-se em Barcelona neste sentido. A realização de um referendo sobre a independência ainda está na ordem do dia. Do ponto de vista económico, o país está a afundar-se cada vez mais em cada dia que passa na recessão e no desemprego em massa já com 27% da população activa desempregada e com o desemprego jovem já a ultrapassar a casa dos 50 por cento. Os espanhóis estão a regressar aos campos e ao trabalho agrícola. A utilização à mão-de-obra imigrante é cada vez menos importante. A bolha na habitação não deixa de se aprofundar e os jovens espanhóis vivem cada vez mais e mais na casa dos pais, por falta de emprego e de habitação. Os despejos são também eles em número cada vez maior ao mesmo tempo que a resistência se organiza, particularmente em termos de justiça.
6. Portugal
Como por todo o lado, em todas as últimas eleições recentes, o partido no poder caiu . A austeridade bate duro. Assim, a recessão continua. O país é sucessivamente abalado por greves massivas e por manifestações de grande participação. As palavras de ordem dominantes são a demissão do governo, o fim da purga económica, os empregos. Os ministros já não se podem deslocar a qualquer lado que não tenham que ouvir e sair ao som de “Grândola Vila Morena”, canção que era a senha, o sinal, para a queda da ditadura fascista. A recessão vai continuar em 2013 – uma queda de 2% no PIB, segundo Bruxelas.