EDITORIAL: A POBREZA INFANTIL E O FUTURO

Diário de Bordo - II

 

São numerosas as notícias acerca do aumento da pobreza infantil em Portugal. Afectará, segundo a Caritas mais de 20 % da crianças e jovens, dos 0 aos 18 anos. O número tem crescido nos últimos anos. Entretanto decresce a natalidade de modo impressionante. Em 1960 para cá o número de nascimentos por ano desceu para metade, atingindo valores semelhantes aos que se verificavam no século XIA, quando o volume da  população total era metade do actual.

No post que sai às 12 horas em A Viagem dos Argonautas, já a seguir a este editorial, publica-se um texto de Edward Hugh, um galês especializado nas interinfluências entre a macroeconomia e da demografia, e que há bastante tempo se vem debruçando sobre o Sul da Europa. O texto tem o sugestivo título de O Esvaziamento de Portugal. Na sua análise, Hugh referencia os problemas causados pela emigração maciça e pela quebra na natalidade. Põe particular enfoque nas dificuldades resultantes do envelhecimento da população, como a recessão, o enfraquecimento do sistema de pensões e reformas e a redução do número de pessoas em idade de trabalhar.

Há um outro aspecto, que evidentemente está ligado aos acima referidos, mas que merece uma referência especial, que é o do crescimento da pobreza infantil. Pode-se dizer que as percentagens indicadas são obtidas a partir de estimativas, mas as notícias e a observação directa apontam, infelizmente, no sentido de um agravamento do problema. E aí põe-se o que é talvez o principal efeito da crise: a população activa portuguesa no futuro vai ser composta, cada vez mais, por pessoas que na sua infância e sua juventude sofreram privações. A natalidade diminuiu bruscamente, muitos jovens emigraram, mas contudo aumentou o peso relativo, entre os que ficaram, dos que estão pior preparados para o embate do futuro. Embate esse que está cada vez mais complicado em Portugal.

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