Naufrágio
Quem mora no fundo do mar não precisa de intérprete.
Abre e fecha as escamas para formar sílabas, palavras, frases.
Todos os seres marinhos conhecem a língua do fundo do mar.
Para quem mora no fundo do mar não há fronteiras.
Pode passear dum lado a outro, ir com os peixes sem passaporte.
Apanhar ervas marinhas e saber os caminhos das correntes profundas.
Ninguém acredita em quem mora no fundo do mar.
Para a gente de pés na terra os habitantes do mar são seres incompreensíveis.
Na terra querem esquecer todo o que acaba no fundo do mar.
Mas há cousas que por muito que se queira, não morrem.
Abandonam a superfície, descem ao fundo e acabam construíndo um lar
num confortável leito de flores de coral.

mensagem anterior: O universo jamais começou
Somos Atlântico.
Lindo !
Do mar viemos, e perdemos, as escamas… só de longe, percebemos, o estrondo, do seu fundo…
(Fadinha pequerrechinha
que estás no fundo do mar,
di-me se tem senso a vida
e se inda há mais que aturar
[Anon…])
A vida tem o senso
que lhe queremos dar,
após viver intenso
podemos naufragar,
mas vale a pena, penso,
de viver intentar…
Pedro, sim, pertencemos ao mesmo mar, a mesma terra do fundo do mar, sem fronteiras nem estados, só com esta água salgada que nos comunica, mistura e revolve. Juntos e revoltos como peixes nos jardins de coral. No texto há também um pouco da Alfonsina Storni, que teve a ideia de dormir rodeada de mar: http://www.los-poetas.com/j/storni1.htm#YO%20EN%20EL%20FONDO%20DEL%20MAR
Lamentosamente hoje todos andamos… sem navegarmos… sem nadarmos… apenas erramos no fundo profundo que a TROIKA, deus maligno, trino e uno, destruiu para nós, para toda a Humanidade… europeia e ainda mais.
Para que falar, suspirar aos grolos palavras, golsar frases a procura de sentido, se tudo está escrito e mal escrito?
Caro António, é certo que algumas pessoas se conduzem como se tudo estivesse mal escrito… Mas não sejamos assim, sejamos como queremos ser, quebremos as fronteiras da terra, vivamos como os seres marinhos que somos. Forte abraço.