ESTUDO DA MERCER DISTORCE A REALIDADE, MAS SERVIU NA CAMPANHA CONTRA A FUNÇÃO PÚBLICA. Por EUGÉNIO ROSA

O ESTUDO DA MERCER SOBRE AS REMUNERAÇÕES DISTORCE A REALIDADE MAS SERVIU AO GOVERNO PARA MANIPULAR OPINIÃO CONTRA OS TRABALHADORES DA FUNÇÃO PÚBLICA – III

A MERCER NO SEU ESTUDO NÃO UTILIZA AS REMUNERAÇÕES EFETIVAMENTE

 RECEBIDAS PELOS TRABALHADORES DA FUNÇÃO PÚBLICA EM 2012

A MERCER sabia certamente que o seu estudo iria ser divulgado. Para potenciar o ataque aos trabalhadores da Função Pública, e virar contra estes a opinião pública, a MERCER faz outra habilidade no seu estudo. Embora faça comparações entre as remunerações do setor privado e do setor publico em relação ao ano de 2012, não considera para tais comparações as remunerações efetivamente recebidas pelos trabalhadores da Função Pública, mas sim aquelas que eles receberiam se não tivessem sofrido cortes nem lhes tivesse sido confiscado o subsídio de férias e de Natal. O quadro 3 mostra a diferença entre as remunerações da Função Pública recebidas efetivamente pelos trabalhadores em 2012, e as consideradas pela MERCER no seu estudo.

Mercer - III

 A juntar às “habilidades” anteriores a MERCER acrescenta ainda mais uma outra: não considerou as remunerações efetivamente recebidas pelos trabalhadores da Função Pública em 2012, mas sim aquelas que eles receberiam se não tivessem nem sofrido cortes nas remunerações nem o confisco do subsídio de férias e de Natal. Entrando com os cortes nas remunerações (entre 3,5% e 16%) e com o confisco do subsídio de férias e de Natal, as remunerações efetivamente recebidas pelos trabalhadores da Função Pública são inferiores, em média, em mais de 20% às utilizadas pela MERCER no seu estudo, o que contribui, mas não é a única razão como mostramos neste estudo, para que o estudo desta empresa não tenha qualquer credibilidade já que distorce totalmente a situação, a nível de remunerações, entre o setor privado e o setor público.

MAS AS “HABILIDADES” DA MERCER NÃO TERMINARAM

Mesmo em relação às profissões que não existem no setor privado (forças armadas, forças de segurança, policias, guardas prisionais, administração tributária, inspeções, diplomatas, juízes, etc.) a “MERCER” construiu profissões virtuais que designa por “profissões com funções de idêntico valor do setor privado analisado” (pág. 78 do seu estudo), e com base nelas determina o “Ganho Médio Mensal” (GMM)  e faz comparações. A “criatividade” da MERCER não tem limites para agradar o cliente. Mas é desta forma, que a MERCER conclui que o ganho médio do oficial das forças armadas, da PSP, da GNR, da chefia tributária, e da policia judiciária está “abaixo do mercado”; mas que o ganho médio mensal dos sargentos, o Pessoal do SEF está “em linha com o mercado” , e que as praças das FA, os chefes e os agentes da PSP, os sargentos e guardas da GNR, o Pessoal da Administração Tributária e Aduaneira, o Pessoal de Inspeção, o bombeiro a Policia Municipal , Oficial de Justiça, a Policia Judiciária e Guarda Prisional auferem um ganho médio mensal, que inclui tudo o que recebem, que está “acima do mercado”. E para fazer tudo isto utiliza uma metodologia a que chama “Mercer IPE”, que tem como base cinco fatores – Impacto, Comunicação, Inova, Conhecimento e risco – mas cuja aplicação prática não explica, permitindo assim que se possa pensar que domina a aleatoriedade e a arbitrariedade.

Em relação aos professores o erro de análise (as remunerações serem muito elevadas) é evidente, como afirmaram os dirigentes dos respetivos sindicatos. No setor privado da educação domina a política de despedir trabalhadores para impedir que, com o aumento da antiguidade, progridam na carreira e recebam mais, e de os substituir por professores mais novos para assim pagar remunerações mais baixas. Apesar de isso ser uma prática corrente no setor, a MERCER no seu estudo ignora essa realidade (peso de antiguidade num e no outro setor) que diferencia o setor privado do público, distorcendo assim as conclusões a que chega.

O desaforo da MERCER ultrapassa os limites quando, no fim do estudo, se põe a fazer recomendações (pág. 86 do estudo) defendendo: (1) “Uma revisão atual da política salarial da Administração Pública com o objetivo de promover um alinhamento com as práticas remuneratórias do setor privado; (2) Uma reflexão sobre o atual modelo de remuneração variável da Administração Pública para implementar práticas mais diferenciadoras”. E tudo isto de uma empresa que revela desconhecer totalmente a realidade atual da Administração Pública, ajustando as suas conclusões aos interesses do cliente. É mais um estudo que custou aos contribuintes portugueses 65.000€ para esquecer, como afirmou o SE da Administração Pública, mas que serviu para manipular mais uma vez a opinião pública contra os trabalhadores da Função Pública com o estafado tema de que são privilegiados, um tema muito querido a Passos Coelho e à  “troika” nas suas campanhas de propaganda contra a Administração Pública Portuguesa.

Eugénio Rosa

eugeniorosa@zonmail.pt

23.3.2013

INFORMAÇÃO SOBRE A APOSENTAÇÃO: Vários jornais noticiaram que era intenção do governo alterar novamente a formula de cálculo da pensão de aposentação, em relação ao tempo de serviço até 2005, para a fazer coincidir com a da Segurança Social. Como tal  noticia criou naturalmente intranquilidade em muitos trabalhadores, aproveitei a reunião de 20.3.2013 com o Secretário de Estado para o confrontar diretamente com essa questão. Ele respondeu que o governo não tencionava alterar a fórmula de cálculo da pensão de aposentação. A informação vale o que vale, mas deixo-a aqui para tranquilidade dos trabalhadores da Função Pública

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