A Viagem dos ArgonautasPentacórdio para Sábado, 20 de Abril

por Rui Oliveira

Neste Sábado, 20 de Abril eventos diversos se sobrepõem à extensa jornada dos Dias da Música em Belém.

Aquele que, a nosso ver, pode merecer destaque é o concerto no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, às 19h, pelo aclamado pianista norueguês de 42 anos Leif Ove Andsnes, escolhido em 2011 como “solista do ano” pela Orquestra Sinfónica NHK– a mais importante do Japão – numa votação que envolveu o grande público, segundo o “Wall Street Journal”, «um dos mais talentosos pianistas da sua geração».

Com uma discografia invejável, que acumula mais de 30 registos, e um repertório versátil e exigente, que se estende de J. S. Bach a Bartók, passando pelo seu conterrâneo Edvard Grieg, tem-se dedicado com especial ênfase, na presente temporada, a Beeethoven, compositor do qual interpretará os primeiro e terceiro concertos para piano na Europa e América do Norte. Em Praga, em particular, os concertos serão gravados ao vivo para a Sony Classical, inaugurando um projeto de gravação da integral dos concertos para piano de Beethoven, iniciativa que denominou “Beethoven A Journey”.

Não é o caso do programa desta tarde que inclui de :

Ludwig van Beethoven Sonata nº 22, op. 54

Béla Bartók Suite op. 14

Ludwig van Beethoven Sonata nº 28, op. 101

Franz Liszt Pensée des morts

Fryderyk Chopin Noturno, op. 48 nº 1

Balada nº 4, op. 52

Mostramos-lhe a execução integral que Leif Ove Andsnes fez da Sonata nº 21 de Beethoven (bem como da Sonata nº 22 do programa) no único concerto que deu em Nova Iorque no Greene Space na temporada de 2012 :

Entretanto, como dissémos, prossegue “O Impulso Romântico” no Centro Cultural de Belém a partir das 14 h em 6 salas da instituição, sendo muito subjectiva a escolha entre os diversos executantes e agrupamentos.

Destacaríamos, por preferência própria, p.ex. a interpretação no Pequeno Auditório (às 16h de Sábado, 20) pelo grupo “La Venexiana” (dirigido pelo cravista Claudio Cavina) de “Madrigali Amorosi” de Claudio Monteverdi.

Escreve Claudio Cavina no site do seu grupo :

«A palavra madrigal remete inevitavelmente para a Itália dos séculos XVI e XVII, palco do desenvolvimento de um dos géneros musicais mais fascinantes da história musical. Nascido como uma forma poética no século XIV, juntamente com a ballata, o sonetto e a caccia, o madrigal italiano foi recuperado no início do século XVI por compositores flamengos que viajaram para a Itália para instruir os músicos do Mediterrâneo mais modestos, os quais , por sua vez, não tardariam muito a superar seus os mestres do Norte … No entanto, o madrigal atinge o seu ponto mais alto de desenvolvimento mais tarde, consolidando-se como o principal género musical do período na côrte, na cultura e no modo de pensar. Petrarca é a primeira fonte de inspiração para os compositores da Prima Prattica, que vêm beber profusamente ao seu Canzoniere ; mais tarde, Marino, Tasso e Guarini, sucessivamente, constituem as bases para o desenvolvimento do género levando à chamada Seconda Prattica . E é quando a palavra já não tem de se render à música e à harmonia, que o texto poético é tanto o elemento de base quanto o principal na elaboração da melodia e harmonia, demonstrada pelos affetti, tão habilmente descritos por poetas do nova geração.

Luca Marenzio é um compositor dum “estilo antigo”, preocupado em manter a rota traçada por seus antecessores … enquanto Monteverdi é certamente o compositor mais inovador (na verdade, ele é o verdadeiro fundador da Seconda Prattica), pois o estilo de suas composições muda com cada nova edição (os seus oito livros de Madrigais abrangem um período de 47 anos !) … E Giulio Monteverdi, no prefácio dos “Scherzi Musicali“ de seu irmão Claudio, afirma em 1607 que “… considerando a harmonia, ela de mestre torna-se escrava da palavra, e a palavra passa a senhora de harmonia ; é para essa noção que a Seconda Prattica, isto é, o estilo moderno, se inclina … “. Estas são algumas das considerações que estão no cerne das actuações de La Venexiana e da sua forma diferente de conceber o madrigal. Uma concepção alternadamente “romântica” e “futurista”, mas nunca óbvio ou banal, nem maçadora …».

Com Claudio Cavina no cravo e direcção musical, estarão em palco Monica Piccinini soprano, Francesca Cassinari soprano, Claudio Cavina alto, Alessio Tosi tenor, Raffaele Giordani tenor, Salvo Vitale baixo e Gabriele Palomba tiorba.

Do programa exclusivamente dedicado a Claudio Monteverdi ouvir-se-ão os seguintes madrigais :

Ninfa che scalzi il piede, Ohime’ dov’e’il mio bem, Dolcissimo usignolo, Non partir ritrosetta,

Oh come sei gentile, Al lume delle stelle, Mentre vaga angioletta, Lamento della ninfa e T’amo mia vita.

Este é um dos registos, abundantemente difundidos em CDs (em regra da editora Gloxa), de um dos Madrigali Amorosi de Claudio Monteverdi, concretamente “Tempro la cetra” com texto de Giambattista Marino do “Sétimo Livro 1619” :

No campo da dança exótica, relativamente perto do CCB, no Auditório do Museu Fundação Oriente, às 21h30 deste Sábado, 20 de Abril, decorre um espectáculo da Comunidade Hindu de Portugal chamado “Lila”− Dança Clássica Indiana.

Segundo o Museu « Lila significa jogo – jogo da estética da vida. Lila é uma recompensa espiritual oferecida aos devotos por Lord Krishna, o deus bailarino que toca flauta e que é, simultaneamente, divino e divertido. Trata-se de um conceito no culto a Lord Krishna que explora as emoções do amor, do desejo, da união, da separação. A união aqui está contudo impregnada de intriga e peripécias combinadas entre Lord Krishna e os seus devotos através da dança.

A actuação alia a estética divina inerente ao vocabulário tradicional da dança Kathak, com os seus movimentos exuberantes e ritmos complexos, à contemporaneidade da história. Kathak é uma das principais formas de dança clássica da Índia, ocupando um lugar de destaque no panorama da dança indiana na medida em que resulta da síntese de duas culturas diferentes – a cultura hindu e a cultura muçulmana.

Kathak era a dança dos contadores de histórias. “Katha” significa história e “Kathak” «aquele que conta uma história»

Como ficha técnica, saiba-se que a direcção, coreografia e figurinos são de Lajja Sambhavnath, a música de Padmashree Atul Desaí e Pt. Emu Desaí, o desenho de luz de Sérgio Joaquim , cabendo a apresentação a Nádia Vissram.

Assim é apresentada a dança Kathak em devoção a Lord Krishna :

Por último, como NOTÍCIA EM ATRASO, lembramos que HOJE (Quinta-feira, 18 de Abril) há, no Anfiteatro com entrada livre do Institut Français de Portugal mais um “Bar des Sciences” (Bar das Ciências) que, por lapso, não mencionámos anteontem.

É às 19h, falado em francês, sendo o tema “Racionnalité du consommateur : utopie ou réalité ? (Racionalidade do consumidor : utopia ou realidade ?) tratado por Eric Gireau-Héraud (Directeur de recherche INRA-Paris, Chercheur associé au Département d’Economie de l’Ecole Polytechnique de Paris).

Segue-se debate com a assistência.

O I.F.P. escreveu o seguinte texto introdutório : « Os supermercados fazem regularmente promoções destinadas a vender produtos alimentares a cerca de metade do seu preço. Os consumidores, assim habituados, continuarão certamente a comprar esses produtos, mesmo que o seu preço já não seja atractivo. Nos saldos, muitas vezes, compramos produtos que no final são inúteis.

A economia comportamental mede a suposta irracionalidade dos consumidores e descreve o impacto das estratégias de marketing das empresas e das políticas públicas implicadas em levar o consumidor “a comprar”. Este Bar das Ciências mostra uma visão divertida desta teoria que está actualmente em vias de discussão no domínio das ciências humanas e sociais ».

Este foi o teaser criado a propósito deste tema :