Um Café na Internet
Em 1883 Cesário Verde vai a Paris numa tentativa malograda de exportar vinhos portugueses.
Regressa. Sente-se debilitado mas continua a trabalhar na loja e na quinta, ficar ocioso é dar o flanco à doença. Em 1884, em Linda-a-Pastora, ainda tenta exorcizar a morte, esse medonho muro:
(…)
Oh! que brava alegria eu tenho quando
Sou tal-qual como os demais! E, sem talento,
Faço um trabalho técnico, violento,
Cantando, praguejando, batalhando.
(…)
Em 1886, para fugir à humidade marítima de Linda-a-Pastora e aos consequentes acessos de tosse e hemoptises, vai para Caneças, a dois passos de Lisboa, porém serra, clima seco. Silva Pinto e António Papança visitam-no. Cesário tem apenas 31 anos mas já perdeu as ilusões:
– Curo-me? Sim, talvez. Mas como ficou eu? Um cangalho, um canastrão, um grande cesto roto, entra-me a chuva, entra-me o vento no corpo escangalhado…
Resolve subitamente abandonar Caneças, fugir, fugir… Recolhe-se à casa de um amigo, junto ao Paço do Lumiar, às portas de Lisboa.
No patamar da escada José Anastácio Verde e Silva Pinto encontram-se, abraçam-se, choram.
A 19 de Julho, Jorge, o último dos irmãos, pergunta a Cesário:
– Queres alguma coisa?
– Não quero nada. Deixa-me dormir.
São as últimas palavras do poeta.
No ano seguinte Silva Pinto colige os versos e edita O LIVRO DE CESÁRIO VERDE, 37 poemas, cento e muitas páginas, 200 exemplares.