EDITORIAL – A TRAGÉDIA SOCIAL

Imagem2António José Seguro, diz que estamos à beira de uma tragédia social. Mais do que estar à beira, pensamos que já estamos a viver uma tragédia social. A qual, é bem certo, se pode agravar. Partidos de esquerda, centrais sindicais, parceiros sociais, são unânimes em afirmar que este governo tem de cair. As fissuras dentro da própria coligação começam a ser evidentes. Nós estamos de acordo em que este governo se deve demitir ou ser demitido. Mas somos cépticos quanto à eficácia de, em eleições antecipadas, o secretário-geral do PS vencer e formar governo. Não é uma solução, mas sim a continuidade de uma alternância que tem demonstrado ser uma espiral descendente. Rumo ao caos, à tragédia. Formado o novo governo e passado um breve período de tréguas, voltará tudo ao princípio. Não estamos a tentar chegar à conclusão de que este governo se deve manter. É óbvio que não tem condições para governar e é quase impossível que o executivo que se seguir, possa fazer pior. Mas é desesperante ver a Esquerda esgotar a sua prática em críticas estereotipadas, em manifestações que de nada servem, em vez de se unir e criar uma alternativa de poder.

As atmosfera de naufrágio acentua-se. Passos Coelho insiste em resolver o défice cortando onde é mais fácil e não onde seria mais justo. Mais inteligente, Paulo Portas apercebe-se de que se está a criar uma situação de uma gravidade extrema. Daniel Oliveira, em artigo do Expresso, compara-o ao «polícia bom» – ou seja ao agente da pide que fingia condoer-se dos presos durante os interrogatórios e a tortura. É uma boa comparação, mas parece-nos que Paulo Portas está a querer demarcar-se de uma equipa que vai ser derrotada. Para piorar o quadro, temos um presidente da República de uma incapacidade lamentável e que tarda a compreender que não pode continuar a fingir que tudo está em ordem. Um governo incapaz, um presidente que não exerce as suas funções, uma oposição maioritariamente semelhante ao partido do governo.

A tragédia social está instalada.

4 Comments

  1. Já vimos o que a direita pretende e também já sabemos que, sempre que é preciso, sabe encontrar os pontos de convergência para conseguir as necessárias maiorias. À esquerda, por outro lado, há várias esquerdas, cada uma delas pretensamente com as melhores soluções para sairmos deste atoleiro mas, e há sempre muitos “mas” na nossa esquerda, completamente incapaz de encontrar os consensos mínimos para criar uma verdadeira alternativa à política actual. E isto é assim praticamente desde o 25 de Abril! Já não há pachorra.

    1. É isso mesmo, caro Fernando Mendes – “há várias esquerdas”. Também há mais do que uma direita. O que acontece é que as esquerdas se dividem por terem “princípios” diferentes; as direitas unem-se, porque secundarizam os princípios em função dos “fins”. Como o objectivo é comum, a unidade é possivel. As esquerdas têm demonstrado uma certa incapacidade para abdicar de princípios ideológicos.

  2. Eu não defendo que a esquerda deva abdicar dos seus princípios, longe disso! Só lamento é que não consigam estabelecer o tal consenso mínimo para oferecer uma alternativa aos eleitores. Mais, se nem agora conseguirem tal consenso acho que nunca o farão. E, assim, em termos práticos, esta postura da esquerda só tem contribuído para perpetuar a direita no poder.

    1. Abdicar dos princípios no sentido de não poder um partido exigir que a unidade se faça sob a sua bandeira. O integrismo, a convicção de que se tem a única linha política correcta, tem impossibilitado todos os esforços que se têm feito no sentido de unir as esquerdas.

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