EDITORIAL: PARA ALEMÃO VER, MAS NÃO SÓ…

Diário de Bordo - II

 

Antigamente, dizia-se “para inglês ver”. A expressão terá tido origem no Brasil, cerca de 1830, e era usada a propósito das leis para abolição da escravatura, criadas por imposição britânica, mas que só foram efectivamente postas em prática muito tempo depois. Entretanto, a  expressão entrou para a linguagem corrente, aplicando-se a tudo o que vigora apenas na aparência. Connosco, hoje em dia, é muito mais complicado. Andamos a levar com uma série de medidas por imposição de quem nos empresta dinheiro, mas não podemos usar os subterfúgios de outrora. Temos que dizer que sim, e ir em frente. É a posição de Gaspar (o não eleito) /Passos/Portas.

Basta ouvir o banqueiro Ulrich, ou os “nossos” secretários de estado para perceber que a austeridade tem adeptos entusiastas entre nós. A abolição da escravatura também tinha adeptos no Brasil, que ao menos defendiam uma causa justa (justíssima). Aqui, os nossos “austeritaristas” (estará bem dito assim?) propõem medidas entusiasticamente, mas é óbvio que tomaram precauções no sentido de elas não os afectarem pessoalmente. Assim verificamos que estamos pior do que se estivéssemos no Brasil, na primeira metade do século XIX. Então, os abolicionistas podiam invocar que defendiam uma boa causa. Hoje em dia, as justificações dos austeritaristas são tão más que nos deixam agoniados. Nem os alemães, que estarão por detrás de toda agitação, para defenderem os seus bancos, têm a certeza do que fazem. A contracção dos mercados já lhes vai batendo à porta. E as classes trabalhadoras lá também querem melhorias. O espírito da ganância, que hoje tem o nome de mão invisível dos mercados, leva a estas coisas.

No Rana Plaza, no Bangla Desh, já encontraram mais de mil cadáveres. Qualquer um percebe que foi a ganância (competição, concorrência, se preferirem) que levou àquela situação. Vamos a ver é se são capazes de arrepiar caminho. Entretanto, o que fará os nossos austeritaristas arrepiar caminho? Nada, ao que parece, enquanto agradarem aos alemães (é o que eles pensam). Nós é que não temos que os gramar.

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