REFLEXÕES SOBRE A MORTE DA ZONA EURO, SOBRE OS CAMINHOS SEGUIDOS NA EUROPA A CAMINHO DOS ANOS 1930

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

O fim do crescimento?

 Satyajit Das, 22 de Abril de 2013

 PARTE III

Novas, novas coisas

Grandes mudanças tecnológicas e nas inovações, pelo menos à escala industrial ou nas revoluções na computação, não estão presentemente no horizonte.

O economista Robert Gordon argumenta que o rápido crescimento e os aumentos nos níveis de vida alcançados desde 1750 foram impulsionados por três diferentes fases na revolução industrial: motores de vapor (a primeira revolução industrial), electricidade, motores de combustão interna, modernos meios de comunicação, entretenimento, petróleo e química (segunda revolução industrial) e computação ( terceira revolução industrial ).

Ele acha que a segunda revolução industrial foi a mais significativa no seu impacto na produtividade e no aumento do nível de vida. Para consternação da i-geração, Gordon argumenta que a terceira revolução industrial, embora importante, foi bem menos importante do que o que se pode estar a pensar,  gerando apenas efeitos pequenos e de curta duração na  melhoria na produtividade.

A substituição de tarefas repetitivas de baixo valor acrescentado pela utilização das tecnologias foi posta em prática principalmente na década de 1970 e 1980. A terceira revolução industrial não veio,  basicamente,  revolucionar a produtividade mas centrou-se, sobretudo,  em melhorar as tecnologias existentes, aumentando a capacidade assim como  o poder e também a miniaturização da produção de bens já existentes. Muitas inovações recentes também estão centradas em dispositivos de entretenimento e de comunicação.

A contribuição económica – rendimentos, lucros e emprego – de muitas inovações recentes são difíceis de avaliar. Algumas tecnologias apenas deslocam produtos existentes.  Os produtos Apple i-Phones tem canibalizado  os produtos  Blackberries, os leitores de música portáteis e os meios digitais de apoio pessoal. Google e os blogs canibalizam as indústrias existentes como, por exemplo, os jornais. Qualquer que seja o seu impacto cultural, Facebook e Twitter podem não ter modelos económicos viáveis.

Gordon argumenta que muitas das inovações são não-repetíveis – melhorias na expectativa de vida, urbanização, melhorias na produção de bens alimentares, água potável, saneamento, transporte rápidos, aumento da participação feminina no mercado de trabalho, controle de temperatura para facilitar as actividades produtivas em regiões climaticamente desfavorecidas, etc.

Nos últimos tempos, os aumentos de produtividade, especialmente a mudança na produção por unidade combinada de capital e trabalho, tem abrandado. Têm sido alcançadas ganhos fáceis de produtividade resultantes da externalização ou da deslocalização de actividades produtivas para jurisdições de custos mais baixos ou em que os níveis salariais dos trabalhadores são igualmente mais baixos.

Muitos novos produtos e muitas medidas para a melhoria na produtividade reduzem o número de trabalhadores necessários para a produção. Enquanto os criadores capturam enormes lucros, os níveis de rendimento e de emprego não são significativamente melhorados, limitando o benefício para a economia como um todo. Dado que a produção dos bens de consumo representa 60-70% da actividade económica nas economias desenvolvidas, isso limita o impacto no crescimento.

A perspectiva de inovação também é afectada pelos níveis educacionais e pelo financiamento para a investigação. A activista social Jane Jacobs identifica a mudança do sistema com a função de ‘educar’ para o sistema que tem a função de ‘credenciar ‘, em que os estabelecimentos de ensino servem agora apenas para simplesmente preparar os alunos para o emprego. O custo crescente da educação também e cada vez mais, tem colocado a continuação dos estudos fora do alcance económico de muitos dos estudantes ou então tem levado a que muitos deles iniciem a sua vida profissional com dívidas significativas.

O financiamento da investigação científica diminuiu em termos reais em muitas nações. Isso afectou a quantidade de investigadores , bem como o número de projectos de investigação, deslocando o centro de atenção para as áreas que seguramente têm mais probabilidades de obter financiamentos ao invés das áreas potencialmente mais inovadoras mas de resultados mais incertos.

Os investimentos em grande escala na investigação pura e para o desenvolvimento nas ciências básicas,  como os que foram realizados pela Bell Labs, pela Xerox em Palo Alto Research Centre (“PARC”) ou Lockheed’s “Skunk” Works , são hoje menos frequentes.  Os investigadores que trabalham na Bell Labs ajudaram a desenvolver a radioastronomia, o transistor, o laser, o dispositivo de carga acoplada (CCD), a teoria da informação, o sistema operacional UNIX, a linguagem de programação C e a linguagem de programação C++. O PARC contribuiu com inovações tais como o computador pessoal, a impressora a laser e a interface gráfica. Sem um tal investimento em ciência, os saltos quânticos na inovação são mais difíceis.

Enquanto factor de crescimento, a inovação e os aumentos de produtividade podem não ser suficientes para restaurar o crescimento aos níveis elevados do século XX.

Futuro incerto

O legado de níveis elevados de dívida existentes irá restringir a actividade económica. Nas palavras de um analista: é como se nós estejamos a conduzir com a utilização apenas do travão de mão. Uma grande parcela do rendimento actual destina-se, agora, ao pagamento do serviço da dívida, limitando o consumo e o investimento. Ultimamente, a maneira mais fácil para arrancar para o crescimento é a depreciação do valor da dívida, removendo essa carga. Mas isso resultaria em perdas para os credores e para os investidores, reduzindo a riqueza, limitando assim o consumo e o investimento. A escassez de recursos e as questões ambientais permanecem restrições adicionais. A falta de opções políticas fáceis significa que o mundo enfrenta um período desconhecido de baixo, abaixo da actual tendência de crescimento.

Os debates sobre a economia  assumem que o inevitável retorno ao crescimento é robusto. Os políticos em todos os lugares repetidamente falam do mantra sagrado das políticas económicas que estabelecem as bases para o crescimento de longo prazo. Mesmo no Japão que está prestes a entrar na sua terceira década sucessiva de estagnação económica, o último governo em exercício apresentou recentemente a sua estratégia de crescimento.

A razão não é difícil de discernir. Ao escrever sobre os EUA em The American Future, o historiador Simon Schama observou que nunca ninguém ganhou uma eleição dizendo ao eleitorado que este estava a chegar ao fim da sua “providencial parcela da sua inesgotável abundância”.

Adaptações ambientais

Toda gente tem que enfrentar a perspectiva de um mundo com baixo ou mesmo nenhum crescimento. Mas as pessoas não querem acreditar que se trata de um possível ou provável futuro . As pessoas acreditam que o retorno a um mundo de forte crescimento é inevitável.

Como o trágico herói de Fitzgerald , Gatsby, o incrédulo grito de batalha por toda parte é então: “não é possível repetir o passado? Porque é claro que se pode!” Mas como o filósofo Michel de Montaigne perguntou: “quantas coisas nós considerámos ontem como artigos de fé e que hoje apenas nos parecem apenas  fábulas?”

Um livro,  The World Without Us, foi baseado à volta de uma experiência intelectual pura – o que seria um mundo a ficar desprovido de seres humanos.  A sociedade e os mercados precisam cada vez mais de se concentrar num mundo sem crescimento, ou pelo menos , em que as baixas e desiguais taxas de crescimento serão pois muito prováveis.

Satyajit Das,  The End of Growth?, 22 de Abril de 2013,  texto publicado em EconoMonitor   e cujo endereço é http://www.economonitor.com/blog/2013/04/the-end-of-growth/

 

Satyajit Das is a former banker and the author of Traders Guns & Money and Extreme Money

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