EM PORTUGAL, UM LIVRO ANTI-EURO QUE É UM SUCESSO, por CORALIE DELAUME. TRADUÇÃO E NOTAS DE JÚLIO MARQUES MOTA:

Nota introdutória

Um texto sobre um livro, um texto sobre João Ferreira do Amaral e não só.

João Ferreira do Amaral e com toda a justiça  é aqui colocado ao mesmo plano que os principais economistas franceses que com as suas análises profundamente críticas , face à eurocracia das Instituições europeias e à arquitectura institucional da zona euro,   vêm defendendo o fim do euro. É pois prazer com vimos João Ferreira do Amaral colocado ao lado de Jacques Sapir, Jean Luc Greau, Jean-Michel Quatrepoint e Frédéric Lordon, quase todos eles nomes conhecimentos dos viajantes em A viagem dos argonautas. Um texto a ler, sobre um livro que, na minha singela opinião,  todos devem ler.

E boa leitura

Júlio Marques Mota

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Em Portugal, um livro anti-euro que é um sucesso (Au Portugal, un livre anti-euro fait un tabac)

 

Não se trata de um polar. Trata-se de um trabalho sobre a economia lusitana. Em Portugal, é um sucesso. Porque devemos sair do Euro , do economista João Ferreira do Amaral, é um dos livros mais vendidos no país. À frente nas vendas , em certas semanas destronava até a trilogia ” As Cinquenta Sombras de Grey, de de E. L. James”, afirma o Wall Street Jornal.

Porque devemos sair do euro

A tese do ensaio é a seguinte: as curas de austeridade impostas em Portugal são sem fim, [sucedem-se umas às outras e sempre com a situação a piorar]. O país perdeu muito em termos de competitividade e não tem nenhuma possibilidade de inverter a situação com o euro, uma ” moeda demasiado forte para a indústria portuguesa”.

Isso também é verdade: a cerca de 1,3 dólares por euro, o euro é uma moeda muito cara. Muito cara relativamente à moeda americana, evidentemente. Mas também relativamente ao yuan – encostado ao dólar, e desde há algum tempo, ao iene também, porque o Japão desde há muito pouco tempo conduz uma política monetária muito expansionista.

Portanto, daí a solução preconizada por João Ferreira do Amaral: regresso ao escudo para, finalmente, ser possível desvalorizar. Uma ideia clássica, para um resultado na livraria que é menos clássico: o livro foi lançado no início de Abril, mas já foi reimpresso… quatro vezes.

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Um tal acontecimento “literário” é o primeiro do seu género em Portugal, mas não é o primeiro na Europa.

Na Alemanha, o muito controverso Thilo Sarrazin, antigo membro do Bundesbank, de onde teve que se demitir em Setembro de 2010, depois de ter sido acusado de racismo, publicou em Maio de 2012 um inflamado livro anti-euro, l’Europe n’a pas besoin de l’euro ( A Europa não tem necessidade do euro).

É aí que se insurge simultaneamente contra a teimosia de Angela Merkel em querer salvar a moeda única e contra a proposta francesa de mutualizar as dívidas públicas sob a forma de euro obrigações, os eurobonds. Este autor, no seu livro, conclui a sua tese   fustigando a …”chantagem ao Holocausto “, dirigida, segundo ele, pelos outros países para obrigar a Alemanha a permanecer no euro.

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Nada disto no livro Faut-il sortir de l’eurodo français Jacques Sapir. Publicado em Janeiro de 2012, esta obra é a primeira do género [1].

Faut-il sortir de l'euro

Se o autor aqui defende, clara e exaustivamente, a sua preferência por um abandono da moeda única, o livro tem ainda a  vantagem de apresentar a opção do euro se tornar, isso sim, a moeda comum europeia, ao lado das moedas nacionais.[2]

Esta divisa – comum e não única- seria utilizada apenas para as transacções extra-europeias enquanto que no plano interno, os Estados regressariam às suas moedas nacionais. As paridades dessas moedas, seriam definidas de forma concertada. Esta solução ofereceria duas vantagens: por um lado, o euro protegeria as moedas nacionais dos ataques especulativos externos, apenas o euro-moeda- comum- estaria destinado a “viajar”. Por outro lado, os diferentes países reencontrariam a oportunidade de ajustar as suas taxas de câmbio recíprocas em função das diferenças de competitividade.

Esta opção é igualmente defendida igualmente por  Jean-Michel Quatrepoint e por Jean-Luc Gréau.

Recentemente esta opção é também defendida por Frédéric Lordon.

Fonte: Au Portugal, un livre anti-euro fait un tabac, disponível no blog L’arène nue, o  blog de Coralie Delaume, cujo endereço é: http://l-arene-nue.blogspot.pt/

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[1] Nota do Tradutor. Na minha opinião, colocaria historicamente o livro de Christian Saint-Etienne, La fin de l’euro, 2009, como a primeira obra a levantar a questão do fim do euro

[2] Desse ponto de vista, veja-se igualmente o artigo de André-Jacques Holbecq A moeda comum contra o desmembramento da área do euro,  já publicado em A Viagem dos Argonautas.

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