E DEUS SERÁ ELE KEYNESIANO? Por FREDERICHLIST (L’ESPOIR).

Selecção, tradução e introdução por Júlio Marques Mota

Parte I

Introdução

Dois textos serão aqui apresentados relativamente à crise europeia e a Deus. Por onde andará Deus nesta crise, é a pergunta que muita criança fará sobre o que se está a passar. Duas ilustrações desta pergunta, a primeira, a dos democratas, a visão sobre Deus e a crise vista a partir da Europa que se abaixo da Alemanha. Ao nível da Europa em crise será Cristo um keynesiano, um comunista, um louco? Como o classificariam os media se O convidassem para a televisão e o questionassem sobre a crise, esta é a pergunta central neste texto.

Agradeço a todos aqueles que me ensinaram desde criança que a Sua mensagem é Universal e eterna, que durará enquanto o Homem tiver forças para se interrogar, para pensar, e sabemos também que não há machado que corte a raiz à capacidade de pensar.

Agradeço a todos aqueles que possivelmente em Seu nome me protegeram enquanto criança e adolescente, sozinho a viver no mundo difícil da grande Lisboa de então, e sobretudo agradeço àqueles que me ensinaram a acarinhar e a manter bem viva a mensagem de Cristo como património imaterial da Humanidade, a mim que O perdi definitivamente pelos caminhos criados exactamente pelo pensamento crítico. Nestes últimos estão algumas das pessoas que da minha aldeia nunca saíram e nunca uma letra sequer aprenderam. Mas aprenderam outras coisas e muitas delas ensinaram e disso é prova o respeito que me ensinaram a ter pelas matérias de base subjacentes ao presente trabalho. 

 

Coimbra, 13 de Junho de 2013.

 

Primeiro texto

E Deus, será Ele keynesiano?

 DeusKeynesiano - I

Aqui está uma pergunta interessante.

Mais interessante em todo o caso do que o jornal das 20H de Marie Drucker de 25 de Agosto de 2011. Nessa noite, o moderador, olhar frio, subjugado antecipadamente pela bomba jornalística que estava prestes a anunciar, informou-nos ao vivo (segure-se firme) da evolução da dívida pública francesa desde as 18 h do mesmo dia! Ouçam então a que velocidade se alarga a dívida pública francesa: … 36 milhões de euros a mais no decorrer de 2 h…! “Na verdade Marie, é uma enorme soma. Mas qual é a tua intenção ? Certamente que será explicar-nos no consiste esta dívida, qual é a sua estrutura, para que serve ela, e, em seguida, quem é que detém, no mundo inteiro ? Não é para nos explicar tudo isto?

Não. Isto é só para dizer um valor: 1 685 310 000 000 euros de dívida pública. É verdade que, em relação aos 1071 euros do smicard no seu posto de trabalho, trata-se pura e simplesmente de espectáculo . Bom, mas então, esforcemos-nos por responder a primeira pergunta que supomos então: o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó será ele keynesiano? Por outras palavras, Deus o Pai recomenda ele a prática do défice aos Hebreus depois de Moisés os ter libertado do Faraó? Então tentemos nós deduzir a intenção do Todo Poderoso, num Parlamento determinado, se Ele fosse hoje um dos membros desse Parlamento e se visse propor a austeridade à moda grega ou até mesmo a ‘regra de ouro’ à moda alemã.

Primeiro, Deus é amor e há apenas uma única “regra de ouro”:

“Assim, tudo o que desejar que os outros façam por si, faça-o igualmente por eles: esta é a lei dos profetas.”(1)

O seu corolário é então: não fazer aos outros o que não queremos que nos façam a nós. Esta afirmação dá-nos um vislumbre do pensamento divino na construção europeia, tal como ela se está a fazer, hoje.

 DeusKeynesiano - II

J’en veux pour preuve ce petit exercice:

Assumamos por instantes que Deus é grego:preocupado com o bem estar e com a unidade do seu povo, Deus observa com raiva os maus indicadores do crescimento do PIB nacional (-4,5% para 2011) (2), assim como a abjecta política de privatização dos caminhos-de-ferro, aeroportos e portos de Pireu e Salónica (3), “Nome da Torre de Babel, é evidente, parece-me, que a injustiça salta aos olhos de todos…”. “Precisamos de quebrar essas correntes de dívida ilegítima que nos escravizam e devemos entrar pois em incumprimento. Talvez até mesmo acrescenta Ele: “como outrora abandonámos o Egipto, será necessário que abandonemos o Euro, a fim de recuperar a competitividade e a independência, ambas agora perdidas. “Precisamos de recuperar a nossa soberania económica, e rapidamente !

Num estilo bem moderno, Deus apontou exactamente o centro do problema: a proeminência da finança, as agências de rating e dos banqueiros sobre a política tornou-se para o seu povo completamente intolerável tanto mais quanto esta pesa duramente sobre as condições de vida dos mais desprotegidos e dos mais pobres e ameaça o sistema institucional no seu conjunto…

O Divino – lembro isto aos incrédulos – tinha, a partir do Êxodo, perfeitamente conhecimento que a economia não era uma ciência ‘mecânica’, mas sobretudo uma organização ‘ética’ (4), ao serviço de um melhor funcionamento da sociedade dos Homens. Ouçamos o que Ele diz ao seu povo, uma vez chegado o tempo das colheitas:

“Toda a gente deve ter de colheita aquilo de que precisa . […] Alguns terão mais, outros terão menos . […] Que aquele que recolhe mais que nada lhe sobre para comer. Que aquele que recolhe menos não tenha falta de alimentos. Que cada um recolha o que é necessário. ‘ (5).

Consciente de que as sociedades são soberanas e devem ser capazes de escolher o seu próprio destino, como muito bem o entenderem, o Senhor reafirma-nos a sua boa palavra através do seu mensageiro Santo Alexis de Tocqueville 34 séculos mais tarde: as sociedades democráticas são construídas sobre uma “igualdade imaginária” (6), ao mesmo tempo que sobre a igualdade de direito, que, por si só, não impede a existência de desigualdades sociais.

“Quando a desigualdade é a lei comum de uma sociedade, as mais fortes desigualdades aparecem como insignificantes. Quando tudo é mais igualitária até as mais insignificantes desigualdades são fortemente relevantes”(7).

; un instant même, il a cru revivre l’épisode du veau d’Or au mont Sinaï qui valut aux Hébreux une douloureuse volée de bois vert.

Atenção às democracias, portanto, nas quais se produza uma ruptura deste imaginário. Pierre Rosanvallon lembra-nos que se a ideia democrática se baseia na ideia de um ‘mundo de semelhantes’ (7A), (o tratar por tu entre os cidadãos revolucionário de 1789 é um bom exemplo), este fundamento social está agora ameaçado pela nova incapacidade de conciliar o imaginário da igualdade e da dignidade com a realidade, tanto as diferenças de rendimento, de posições e de mobilidades segundo os cidadãos são imensas. Tornando-se grego, Deus deu-se conta da insolência de alguns dos seus filhos. Ele viu o ouro e a prata a perderem-se nos limbos da futilidade, vir recusarem-se a partilha e cidadania; por momentos pensou mesmo estar-se a reviver o episódio do bezerro de ouro no Monte Sinai.

(continua)

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(1) Evangelho segundo S. Mateus (7.12)

(2) AFP Publicado a 26/08/2011

(3) http://www.senat.fr/rap/r10-645/r10-6457.html: artigo intitulado: “Sur la crise économique et financière en Grèce. Sous titre : “l’Ambitieux programme de privatisations”.

(4) Refiro-me ao artigo apaixonante de “Aux origines bibliques de l’économie normative” de Jean-Paul Maréchal, na Universidade de Rennes 2, Haute-Bretagne: disponivel em:

http://www.ecologie-et politique.info/IMG/pdf/29_Aux_origines_bibliques_de_l_economie_normative.pdf

(5) Exode (16.16/18)

(6) « A opinião pública aproxima-os do nivel comum e cria entre eles uma forma de igualdade imaginária, apesar da desigualdade real das suas condições » De la Démocratie en Amérique.

(7) “Aux origines bibliques de l’économie normative” – Jean-Paul Maréchal.

(7bis) Cours de Pierre Rosanvallon au Collège de France: Qu’est ce qu’une société démocratique. Libre sur : http://www.college-de-france.fr, cours du 27 janvier 2010.

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