por Rui Oliveira
São poucos os acontecimentos desta Terça-feira, 25 de Junho que mereçam destaque particular, pelo que começaremos por referir o segundio dia da iniciativa da Fundação Gulbenkian (comissariada por António Pinto Ribeiro) Cinemateca Próximo Futuro a decorrer no seu Anfiteatro ao Ar Livre a partir das 22h, com a projecção da trilogia da cineasta Filipa César (Portugal) composta por “Conakry”, “Cacheu”, “Cuba”, e não só …
“Conakry”, exibido em estreia, é um filme de 16 mm, de um único take, encenado com base em imagens de arquivo filmadas por Flora Gomes, Sana Na N’Hada, Josefina Crato e José Columba Bolama, em que a realizadora Filipa César convidou a escritora portuguesa, Grada Kilomba, e a rádio-activista americana, Diana McCarty, a reflectirem sobre as imagens e a sua história. O foco é sobre o reel do filme documentário de um determinado evento, “A Semana da Informação”, organizado em Conakry, no Palais du Peuple, em 1972, durante a luta de libertação, onde Amílcar Cabral foi o curador de uma exposição sobre o estado da guerra contra o domínio português. “Conakry” descreve e expõe como o acesso a imagens, quase esquecidas, do imaginário militante, podem ser um instrumento para a recuperação da memória.
“Cacheu” é uma palestra, realizada por Joana Barrios, que reúne elementos da investigação de Filipa César sobre o cinema guineense e quatro estátuas coloniais (hoje armazenadas nas fortalezas Cacheu, construídas pelos portugueses, em 1588, e um dos primeiros bastiões do estabelecimento do comércio de escravos na Guiné-Bissau) e que viaja através de diferentes momentos, onde estas estátuas expressaram conflitos simbólicos.
Em “Cuba”, um take único revela uma palestra de cerca de 10 minutos apresentada pelo cineasta guineense e régulo, Suleimane Biai, pela artista luso-espanhola, Joana Barrios, e pelo actor guineense e director do Instituto de Cinema de Bissau (INCA), Carlos Vaz. O filme propõe um caminho a partir da experiência de Amílcar Cabral, como agrónomo, pesquisando o solo da aldeia portuguesa de Cuba, através do seu envolvimento como líder do movimento de libertação da Guiné e impulsionador do nascimento do cinema militante guineense, influenciado e apoiado por Cuba.
Por fim, é projectado “SEM FLASH. Homenagem a Ricardo Rangel (1924–2009)” (Moçambique), o retrato cinematográfico, sob a forma de documentário − realizado pelo curador de exposições Bruno Z‘Graggen, com direcção de fotografia do produtor de vídeo Angelo Sansone (ambos de Zurique) − da obra do grande fotógrafo moçambicano Ricardo Rangel (na foto).
Outro filme, de peso e significado diferente, é o que mostra o ciclo “Contemporâneos: cinema espanhol recente” organizado pelo Instituto Cervantes (Rua de Santa Marta, nº 43 r/c), que nesta Terça-feira, 25 de Junho exibe no seu Auditório às 18h30 a película “Mientras duermes” (Espanha, 2011) do realizador Jaume Balagueró, detentora de 9 prémios (entre 20 nomeações).
Construída sobre um guião de Alberto Marini, interpretam-na nos papéis principais Luis Tosar (César), Marta Etura (Clara) e Alberto San Juan (Marcos).
Sinopse: César é porteiro num edifício de apartamentos e não trocaria este trabalho por nenhum outro, já que lhe permite conhecer a fundo os movimentos, os hábitos mais íntimos, os pontos fracos e os segredos de todos os inquilinos. César guarda um segredo muito peculiar: gosta de fazer mal, mover as peças necessárias para produzir dor à sua volta. A jóvem Clara, moradora recente no condomínio, é a sua próxima vítima …
Eis o seu filme-anúncio :
Agora no teatro, recorda-se de novo que integram as “Festas de Lisboa’13” os diversos mini-espectáculos do Teatro Rápido (na Rua Garrett, nº 56-60 ou Rua Serpa Pinto, nº 14) de entre os quais o da Sala 1 “Vou dar Luta”, da autoria de Luís Mário Lopes, tem também apreciação crítica favorável (pois já mencionámos valorativamente o da Sala 2).
Diz dela J.C. (in “Atual”) : «… O diálogo é tenso, agressivo, parece mesmo que as coisas estão para explodir, mas o desejo e o sexo acabam por fazer uma entrada quase inevitável e baralhar, como sempre, as cartas que antes pareciam bem distribuidas. As certezas vacilam, os lugares confundem-se, e o tom duro e agressivo do início transforma-se numa espécie de furacão cujas consequências estão muito para lá dos 15 minutos que dura a peça. Custódia Gallego e Vítor Oliveira, encenados por Renato Godinho, representam na perfeição este par em ebulição».
Em cena até 30 de Junho, mas apenas de Quinta a Segunda-feira de cada semana, as sessões são às 18h, 18h30, 19h e 19h30 (com sessão extra às 20h no Domingo e Segunda) (pela módica quantia de 3 Eur.).
Como conferência/debate, a UniPop organiza nesta Terça-feira, 25 de Junho, às 18h30 na Casa da Achada (Casa-Museu Mário Dionísio) o lançamento do livro “A Morte de Luigi Trastulli e Outros Ensaios – Ética, Memória e Acontecimento na História Oral”, de Alessandro Portelli, publicado pelas Edições Unipop.
O debate posterior contará com a participação de Alessandro Portelli e Miguel Cardina.
Este livro reúne cinco textos escritos em diferentes momentos do seu percurso de investigador empenhado no uso de fontes orais. Os três primeiros artigos abordam a História Oral a partir das questões epistemológicas e éticas que ela convoca. Os dois textos seguintes tomam como objecto a Itália do pós-guerra, ocupando-se da temática da memória e do modo como ela se relaciona com os acontecimentos – ocorridos ou imaginados – e com as dinâmicas sociais e políticas circundantes. Todos eles entendem a História Oral não tanto como uma mera técnica de recolha de dados a partir de entrevistas, mas como uma prática que foi construindo um campo peculiar de abordagens e problemas.
Por último, como NOTÍCIA EM ATRASO (franco), alerta-se para que encerra amanhã (Segunda, 24 de Junho) no Museu de Artes Decorativas Portuguesas – Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva (FRESS) a exposição “i em pessoa” de Teresa Gonçalves Lobo, no âmbito do seu projecto artístico UM OUTRO OLHAR.
Este projecto pretende dar especial atenção a projectos de criação contemporânea, convidando artistas portugueses para em articulação com os técnicos e os mestres das oficinas da FRESS. Na sua 4ª edição o projecto teve por tema “o Desenho”, sendo o convite feito à artista Teresa Gonçalves Lobo, e pretendendo-se interligar saberes e técnicas distintas e cruzar o ateliê da artista com a oficina do mestre.
«…Há dois momentos especiais nesta exposição que merecem destaque: um livro de gravuras e duas peças de mobiliário. A seu modo, ambos sintetizam a totalidade dos esforços de trabalho de Teresa Gonçalves Lobo. Primeiramente, A Família dos is regista, num traço frágil que evoca as delicadezas de Paul Klee e Max Ernst, tanto a vocação narrativa como a capacidade de autonomia formal do elemento-chave deste vasto conjunto de obras. Depois, as i-chair e i-chair long, introduzindo elementos volumétricos no discurso, materializam as formas bidimensionais do desenho fazendo-as passar para o domínio da escultura, (embora segundo as convenções de utilidade e durabilidade exigidas pela construção do mobiliário)…» (assim reza o Comunicado à Imprensa).
(para as razões desta nova forma de Agenda ler aqui ; consultar a agenda de Domingo aqui)
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