CARTA DE VENEZA – 61 – por Sílvio Castro

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Angola vence o prêmio “Melhor pavilhão da 55ª. Bienal de Arte de Veneza, 2013”

 

 Quando o júri da 55ª. Bienal Internacional de Arte de Veneza – presedido por Jessica Morgan (Grã Bretanha) e composta por Sofía Hernádez Chog Cuy (Néxico), Francesco Manacorda (itália), Bisi Silva (Nigéria) e Ali Subotnick (USA) – anunciou a concessão do Leone d’Oro a Angola como o melhor pavilhão nacional da Exposição curada por Massimiliano Gioni a surpresa foi geral, mas logo acolhida com grande simpatia.  Verificou-se uma generalizada expressão de surpresa, mas não para mim. Isto porque, com a edição da 13ª  Bienal Internacionall de Arquitetura de 2012, eu já descobrira de quanto eram capazes os dois curadores de então, os mesmos da atual Bienal de Arte, Paula Nascimento e Stefano Rabolli Pansera.  Como se verifica na atual Exposição veneziana, na 13ª. edição da Bienal de Arquitetura Angola se apresentava pela primeira vez.  Na ocasião tive oportunidade de escrever uma das minhas Cartas de Veneza para este nosso blog, na qual coloquei em realce as qualidades expositivas do Pavilhão angolano localizado para a ocasião num dos espaços da Fundação Giorgio Cini. Agora os dois curadores premiados criaram no Palácio Vittorio Cini, no bairro veneziano de Dorsoduro, um pavilhão que desde logo causa admiração e isso por várias razões.

Paula Nascimento, arquiteta, ex-colaboradora de Álvaro Siza, atualmente e desde 2011 diretora de Beyond Entropy Africa, formou-se na London Southbank University e na Architectural Association em Londres.

Stefano Rabolli Pansera, fundador e diretor da Beyond Entropy Ltd., trabalhou de 2005 a 2007 com Herzog & de Meuron, para em seguida, 2007-2011, fazer-se docente da Architectural Association School of Architecture. Foi igualmente professor visitante nas Unviersidades de Cagliari, Cambridge, Nápoles, Wuhan, Seul e Madrid. Desde 2012 é o Diretor do Museu de Arte Contemporânea de Calasseta e da Galeria Mangiabarche, ambos situados na Sardenha.

Paula e Stefano realizaram no Palazzo Cini o pavilhão nacional que mais se encontra com a tese central proposta por Massimiliano Gioni nesta 55ª. Bienal de Arte. Proposta que como já afirmamos com clareza deixa sempre uma sensação de insatisfação no expectador colocado diante da vastidão e quase abstração da monumental carga teórica contida no “Palácio Enciclopédico“ de Gioni. Já em “Luanda, Cidade Enciclopédica”, tal indecisão se atenua. Colocando o seu igualmente numeroso material num espaço de grande tradição artística,  como aquele da sede da Fundação Vittorio Cini, espaço vastamente ocupado por obras de grandes artistas do passado, Paula e Stefano procuram estabelecer o melhor diálogo possível entre arte do passado e arte contemporânea.  Através de obras, escultura e pintura, de 21 artistas angolanos, Luanda pode ser vista como uma Cidade Enciclopédica. Pena que, para melhor resposta às complexidades da tese expositiva, as obras do passado estão isoladas no primeiro andar do Palácio Cini, enquanto aquelas dos artistas angolanos se encontram no segundo… Ainda aqui o visitante é simplesmente deixado diante de suas possíveis perplexidades.

Paula Nascimento e Stefano Rabolli Pansera transportam para Veneza obras de 21 artistas contemporâneos de Angola, todas elas pertencentes ao Museu ENSA de Luanda. Através dessas esculturas e pinturas o expectador percorre o decurso de transformações porque passa a Capital, assim como igualmente os costumes do homem angolano. Os trabalhos inovadores de Viteix, António Ole, Jorge Gumbe, Van, Afó, Paulo Jazz, Kiana, Finezza Teta, Sônia Lukene, Guilherme Mampwya, Hildebrando de Melo, Costa Andrade (Ndunduma), Mayembe, Zan Andrade, António Toko, Marco Kabenda, Amândio Vemba, Sozinho Lopes, António Gonga, Landa Yetu, Telmo Vaz Pereira, todos eles titulares das mais variadas técnicas artísticas modernas, tais trabalhos fazem com que o grande público que não cessa de visitar o Pavilhão premiado tome conhecimento desta nova visão do universo africano.

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