MARAVILHEMO-NOS EM CASCAIS COM OS “DISPARATES” DE GOYA por clara castilho

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Uma exposição com obras de Goya pode ser apreciada na Fundação D. Luis, em Cascais, até ao dia 8 de Setembro.

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Disparate nº 1 – “Disparate feminino”- um grupo de mulheres manteia dois homens que parecem bonecos. Na manta aparece a figura de um burro. Podemos interpretar esta imagem segundo o código carnavalesco, como a representação da subversão das mulheres perante o poder masculino.

Salvato Teles de Menezes, seu administrador-delegado, diz na apresentação da exposição:

“Substituindo a fotografia, as gravuras de Goya, de que só genericamente se conhecem algumas (fundamentais para a história do género) retratam com rasgada visão das situações escrúpulo minudente os momentos mais dramáticos da dominação francesa, em especial aqueles em que a resistência espanhola, à custa de pesados sacrifícios em vidas humanas, arrostou com violência cega do ocupante.

 […] A História recebeu de Goya o testemunho impressionante de uma experiência marcada pela dor, que comoveu e prestigiou a arte espanhola.”

A Comissária da Exposição, Marisa Oropesa, diz na sua apresentação das obras expostas:

“O mestre é um revolucionário que institui um novo conceito de arte em que o artista é testemunha de uma era. Goya é sinónimo de revolução, estabeleceu um antes e um depois no desenvolvimento da pintura, convertendo-a na peça chave e indispensável do nascimento da Arte moderna. Se a arte académica representa a tradição, o experimentalismo de Goya é a antítese dessa mesma tradição.”

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Na exposição podemos apreciar as séries “Caprichos”, “Desastres de Guerra” e “Provérbios”. A arte da gravura é difícil e nem todos a ousaram com tanta mestria. Na época, essa utilização, com  água-forte e  litografia foi uma novidade, colocando as “produções” mais ao alcance de todos.

Detenho-me nos “Provérbios” ou “Disparates”. São gravuras que, não sendo numeradas, deixam à imaginação de cada os objectivos do pintor. Só em 1864 foram tornadas públicas, muito depois da sua morte (1828). Nelas vemos monstros, sombras, espíritos que abandonam os corpos, cenas sem nexo próprias do mundo onírico.

Podemos ver as suas críticas às instituições – clero, nobreza e militar – apesar de ter vivido na sua dependência, também pintando reis e nobres e de ter sido acusado de apoiar as ideias de Napoleão.

A sua ideia sobre o “sacramento matrimonial”  aparece em várias das estampas, por exemplo na nº 7.

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Segundo o respeitado crítico Robert Hughes, Francisco Goya assimilou as lições dos neoclássicos, dos românticos e dos retratistas ingleses e desenvolveu um estilo próprio e surpreendente. Nas palavras de Hughes, “uma verdadeira figura de articulação, o último do que estava acontecendo e o primeiro do que estava por vir”.

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