RETRATOS, IMAGENS, SÍNTESE DOS EFEITOS DA CRISE DA ZONA EURO SOBRE CADA PAÍS

Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

Porque é que a imprensa alemã não quer que se publiquem as actas do BCE

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Romaric Godin | La Tribune | 01/08/2013, 11:43

Os media alemães não se poupam em palavras duras para criticar a vontade de Mario Draghi  em querer tornar públicas as minutas do BCE .

A informação transmitida por Mario Draghi numa entrevista ao Suddeutsche Zeitung em que ele afirma apoiar a ideia de uma publicação das actas do Conselho do BCE tem provocado um vendaval de ira do outro lado do Reno.

Tiro de barragem da imprensa

O Presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, afirmou estar contente com esta iniciativa, apesar da imprensa alemã não esconder a sua insatisfação. O diário conservador do Império Springer, Die Welt, é provavelmente o mais violento. Num longo artigo, este jornal explica que é uma má ideia e que isto faria com que os mercados ainda fiquem mais nervosos, porque mais sensíveis ainda para as todas as palavras do relatório do Conselho de Governadores. O diário económico Handelsblatt também advertiu contra os “efeitos colaterais”. Mesmo o mais centrista Die Zeit acredita que é uma “ideia perigosa”.

Uma armadilha para o Bundesbank

Porquê  uma tal barragem de tiros? Por uma simples razão: esta decisão de transparência é percebida além Reno, como uma armadilha para isolar o Bundesbank. Sabe-se como este último está isolado no seio do Conselho Directivo, não encontrando a não ser pontualmente apoio dos seus homólogos holandeses, austríacos ou finlandeses. No caso da publicação das actas do BCE, este isolamento apareceria em plena luz do dia.

Ameaça à unidade da zona euro?

O risco não seria pequeno para ampliar a já grande lacuna entre o BCE e os alemães. Então, daria  mais voz a todos aqueles que, hoje cada vez mais numerosos à direita do leque político alemão, exigem uma modificação do sistema de votos no Conselho de Governadores, com uma ponderação que daria ao Bundesbank um  poder conforme ao peso da economia da Alemanha na economia europeia. Como observou o blogue de Die Zeit, “esta iniciativa é uma ideia maravilhosa, mas tenho medo que acabe por ser prejudicial no  final à própria  Europa.”

Medo quanto à independência

Além deste medo legítimo, há ainda uma forma de nostalgia por parte dos editorialistas alemães. O principal problema é que agora eles já não reconhecem o BCE como o herdeiro do Bundesbank que também ele  não publicava as minutas das suas reuniões a fim de salvaguardar a sua independência. Ao tornar públicos os debates dos governadores, estes últimos devem realmente medir o significado das suas próprias palavras face à sua opinião pública e aos seus políticos. A sua independência deixaria assim de estar assegurada.

Divórcio entre a Alemanha e o BCE

A chave para essa ira provavelmente é dada pelo artigo do Die Welt que começa a sua demonstração por esta descrição: “desde que Mario Draghi assumiu o cargo em Novembro de 2011, a instituição – que outrora linha sido concebida segundo o modelo do Bundesbank  – está agora virada às avessas .” Por detrás desta controvérsia, portanto, está uma certa forma de ressentimento em relação ao novo BCE projectado pelo italiano, o das OMT, da orientação para o futuro e, agora, a publicação das actas. O divórcio entre a Alemanha e o BCE, o resultado final da crise Europeia, torna-se ainda cada vez mais flagrante.

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