O argonauta Júlio Marques Mota responde à pergunta que ele próprio formulou
À pergunta formulada
Eis pois a questão que levanto aqui e agora, uma vez que Portugal se recusa viver em autarcia como um país pequeno que é, uma vez que a saída da zona euro unilateral é também ela inaceitável, uma vez que a saída apoiada pela UE é , por seu lado, impraticável, e tendo ainda em conta o conjunto, caracterizado pela ignorância, ganância e maldade, destes que nos governam, seja a nível regional seja a nível nacional, então o que fazer para não se morrer, mesmo que lentamente (!) com estas políticas que estão e estão mesmo para durar e talvez mais de dez anos, de acordo com as declarações de Jens Weidmann ao Wall Street Journal
eis a minha resposta
A minha resposta à pergunta feita no blog sobre o permanecer ou sair do euro
PARTE II
(continuação)
…
Vejamos alguns detalhes mais quanto à Inglaterra que dispõe da arma cambial e dispõe igualmente do financiamento via Banco de Inglaterra (BoE), sem nenhum contexto de agressão, o que aconteceria a Portugal se saísse do euro, sozinho, por violação dos Tratados.
Gráfico V: Aumento anual do endividamento relativamente ao PIB
Em 2011-2012, o sector público teve um aumento da dívida contraída (o défice global) no montante de £121 mil milhões de libras, ou seja, 7,9% do PIB. Para 2012-2013, o défice global estimado é £120.9 mil milhões (7,8% do PIB). Veja-se a “história inglesa” quanto ao défice global anual:
Gráfico VI: Défice global anual relativamente ao PIB
Tudo começa agora a ficar claro quanto ao sentido da resposta a dar à pergunta. Veja-se o endividamento da Inglaterra e os resultados das aplicações nos títulos da dívida e em que inclusivamente estes últimos dados causam inveja a qualquer país da periferia.
Gráfico VII: Endividamento público e resultados das aplicações nos títulos da dívida
No presente caso com que nos deparamos, desde 2007 que os rendimentos sobre os títulos ingleses caíram. Os países da zona euro com níveis de dívida semelhantes têm estado sujeito a um claro disparar dos rendimentos dos seus títulos da dívida pública, o que, por seu lado, tem a um vincado aumento da pressão sobre o governo para cortar muito rapidamente nas despesas públicas. No entanto, estar fora do euro com um banco central independente (disposto a actuar como refinanciador de última instância para o governo) significa que os mercados não temem uma crise de liquidez no Reino Unido; taxas de 2 por cento para títulos a dez anos!!! O que vale no meio de tudo isto o quantitative easing inglês, o que vale portanto o não estar sob a pata dos novos Neros chamem-se eles, Draghi, Schauble, Constâncio, Jens Weidmans ou outros. E assim a Inglaterra não se transformou numa Grécia.
E estes nomes não são agora citados por acaso. Vejamos as taxas de rentabilidade de alguns países para percebermos que a política seguida pela UE é a política que convém à Alemanha imperial de que os nomes citados se prestam agora como leais servidores. Lembremos pois Vítor Constâncio em Atenas a afirmar recentemente que não podemos nem devemos mudar de rumo.
Gráfico VIII– Rendimentos dos títulos de dívida pública de diversos países
A Espanha e a Itália a pagarem pelos seus títulos da dívida pública perto de quatro vezes mais o que paga a imperial Alemanha no quadro do mesmo espaço integrado, ou seja no mesmo espaço agora desintegrado com o nome de zona euro mas de zona euro só tem o euro.
Apesar dos défices elevados na Inglaterra as suas taxas de refinanciamento da dívida pública têm descido ao contrário dos países da periferia da zona euro. E isto tem sido assim porque:
— houve aumento nas taxas de poupança. Uma maior poupança do sector privado aumentou a procura de activos seguros como o são os títulos do governo inglês, emitidos em moeda nacional
— houve fracas taxas de rentabilidade no sector privado. A recessão em W tem tornado os investimentos no sector privado menos atractivos. No ambiente de instabilidade geral como o é o actual os investidores preferem a segurança de títulos do governo com baixa taxa de juros do que as acções com maior risco sobre o investimento do sector privado.
— houve a política monetária dita quantitative easing e a compra de títulos do governo pelo BoE tem ajudado a manter as taxas de rendimentos bastante baixas.
— a Inglaterra é vista como um porto seguro, em comparação com as economias da zona euro como a Espanha, a Itália, a Irlanda ou Portugal em que de um dia para o outro pode-se ficar sem nada, sem euros, com moeda nacional e sem valor à mercê dos mercados.
A Inglaterra tem uma política monetária independente e dispõe da taxa de câmbio. Uma grande razão para que os rendimentos na Inglaterra sejam baixos é que estes não estão na zona do euro, mas têm a sua própria moeda e podem emitir mais papel-moeda se necessário. Não existem temores de uma crise de liquidez na Inglaterra, porque o Banco da Inglaterra sempre pode imprimir dinheiro, se necessário. As economias da zona euro não têm um banco central disposto a fazê-lo — questão muito sensível para os investidores.
Gráfico IX: Valor dos juros da dívida nacional
O custo da dívida pública é expresso pelo montante de juros que o governo tem de pagar sobre os títulos de dívida pública vendidos. Em 2011-2012, os pagamentos de juros sobre a dívida britânica estão previstos serem de £48,6 milhares de milhões (3% do PIB). Este é um aumento acentuado nestes dois últimos anos, mas ainda é muito controlável.
(continua)
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Para ver a Parte I deste trabalho, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:
http://aviagemdosargonautas.net/2013/08/15/saida-do-euro-a-minha-resposta-por-julio-marques-mota/
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