SAÍDA DO EURO – A MINHA RESPOSTA. Por JÚLIO MARQUES MOTA

O argonauta Júlio Marques Mota responde à pergunta que ele próprio formulou

À pergunta formulada

Eis pois a questão que levanto aqui e agora,  uma vez que Portugal se recusa viver em autarcia como um país pequeno que é,   uma vez que a saída da zona euro unilateral é também ela inaceitável, uma vez que a saída apoiada pela UE é , por seu lado, impraticável, e tendo ainda em conta o conjunto,  caracterizado pela ignorância, ganância e maldade,  destes que nos governam,  seja  a nível regional seja  a nível nacional, então o que fazer para não se morrer, mesmo que lentamente (!)  com estas políticas que estão e estão mesmo para durar e  talvez mais de dez anos, de acordo com as declarações de Jens Weidmann ao Wall Street Journal

eis a minha resposta

A minha resposta à pergunta feita no blog sobre o permanecer ou sair do euro

PARTE VII
(CONTINUAÇÃO)

Mas um país não morre e, neste caso qual é então a saída da crise para quem está na zona euro? No quadro actual do euro, impossível sair da crise como se vê. Mas a questão é mais grave ainda: quando já se contam como países em austeridade, Portugal, Espanha, Itália, Chipre, Malta, Grécia, Irlanda, França, Holanda, Eslovénia, Letónia, Hungria, Finlândia, resta-nos apenas perguntar quem é que se segue. Fora da zona euro e dentro da UE, o exemplo da Inglaterra é bem exemplar de que num quadro recessivo como este só uma saída global é possível. Fora disso é uma pura aventura, a menos que… a zona euro enquanto tal desapareça, hipótese ainda muito recentemente defendida por Jacques Sapir contra Mélenchon. Mas nesse quadro os cenários dantescos admissíveis são tantos que pensamos preferível a outra via, a via da mudança no interior da zona euro e, por consequência, de mudança igualmente na UE. E aqui estamos totalmente de acordo com Yanis Varoufakis, Stuart Hollande e Galbraith relativamente ao plano apresentado, o Investment-led Convergence and Recovery Program-ICRP, uma espécie de New Deal para a sinistrada zona europeia. E tomemos isto como uma plataforma mínima para se encontrar uma saída que acabe de vez com esta espiral regressiva. Sublinhe-se que face ao desastre já constatado se trata já de uma plataforma mínima e ainda dentro do quadro em que este problema se gerou, ou seja dentro do quadro de pensamento dos actuais dirigentes europeus. Portanto cheio de limitações, até pelo contexto político na Europa, em geral, e na Alemanha, em particular. Essas limitações são também visíveis nestes autores quando afirmam: “One alternative to new official loans, or ‘precautionary lines’, would be for Ireland and Portugal to be placed formally under the umbrella of the ECB’s OMT.” Ora no quadro das OMT não há salvação possível para o euro pois este programa nasce de uma impossibilidade ou de uma contradição insanável: salvar o euro, resgatar a dívida de países em dificuldade mas já sob o reino da condicionalidade da Troika, ou seja, quando se já está a matar o próprio euro! Impossível, por aí, um verdadeiro resgate.

Mas podemos ir um pouco mais longe colocando no centro da análise os três países europeus mais industrializados imediatamente a seguir à Alemanha, com algum realce para a França. E por esta via introduzimos também na nossa análise o papel crescente que os países ditos emergentes, os BRICs, estão a assumir no comércio internacional e, por essa via, a condicionar todos os modelos de led-growth via exportações que se queiram seguir. Podemos assim procurar captar as mudanças nos fluxos de comércio internacional impostas pela dinâmica da globalização, pelos interesses dos países emergentes, entre os quais está particularmente a China, pelos interesses industriais das grandes empresas alemães. Dizemos que de entre os três países, Itália, Inglaterra e França, damos algum relevo, na análise gráfica,  à França, porque este país , dito híbrido, porque é um país economicamente situado entre o Norte da Europa, a Alemanha, e o Sul da Europa, tem disso um país fortemente vítima da desindustrialização.

Quanto à Inglaterra vimos com o gráfico da balança comercial acima exposto e explicado sucintamente e com o gráfico seguinte que este país claramente está num processo de desindustrialização.

Gráfico XXVI: Índices da evolução do produto por sectores

 júlio XXV

A opção neoliberal a que outrora se referiu Gordon Brown na sede da City Corporation de que a Inglaterra seria, por opção, e não por destino, um grande produtor de serviços e não de bens industriais ou agrícolas é aqui bem ilustrada. Ainda aqui curiosamente se vê que o sector financeiro continua a reforçar o seu peso! Desindustrialização, é agora o tema de que falamos.

Ainda sobre a desindustrialização vejamos a síntese feita, quanto a este tema, por Xerfi-Synthèse n° 1 (L’UE, plateforme de production de l’économie allemande, juin 2013), onde, a partir dos dados tratados, se pode ir mais longe e perceber que a actual forma de integração ou desintegração não é desinteressada para a Alemanha que pode conseguir mercados fornecedores de produtos intermédios a preços equivalentes ao do Sueste asiático e sem os mesmos problemas, mesmo que para isso sacrifique os países do Sul.

(continua)

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Para ver a Parte VI, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:

http://aviagemdosargonautas.net/2013/08/20/saida-do-euro-a-minha-resposta-por-julio-marques-mota-6/

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