AINDA SOBRE A MANIFESTAÇÃO CONTRA A TROIKA, CONTRA AS SUAS MENTIRAS – SOBRE ESPANHA, com CITAÇÕES DE EDWARD HUGH.

Já depois da nossa peça escrita sobre a Manifestação contra a Troika, os jornais analisarem, e muito bem, creio eu como simples leitor, as razões da fraca adesão nas ruas. Uma coisa aparece como certa, o PC sabe extremamente bem canalizar o descontentamento a seu favor e muitas vezes com forte prejuízo dos outros partidos, o que globalmente pode ser prejudicial para o país, mas se assim é, então a culpa também é dos partidos que disso se podem queixar. Um exemplo flagrante é a falta de contestação do PS nas ruas, e creio que não há melhor escola para a dinamização na política do que a aprendizagem que se ganha nas manifestações organizadas das ruas. Não são os gabinetes de estudo que a fazem, não. A este nível é importante a consciência da vida vivida, sentida, e publicamente assumida na contestação que a rua dá, até porque aí também se dá a solidariedade de se estar em comum e de se perder até o medo de politicamente se mostrar. Nisso, quando uma manifestação como esta tem todos estes ingredientes, a começar pela gente nova, a começar pelo facto de não ser oficialmente de nenhum partido, teria todas as vantagens para ser uma manifestação de grandes massas. Mas não foi e a culpa, penso eu, para além de muitas razões apontadas, deve-se à logica da canalização do descontentamento pelo PC acima referida e, não sendo uma Manifestação dele dele, seria então irrelevante e teria teoricamente pelo menos bloqueado os seus militantes de participarem. Mas deve-se igualmente à lógica do silêncio do PS que mais parece quer assumir uma contestação oficial, uma “contestação de Estado”, uma contestação consentida pelo poder e assim não terá motivado as suas hostes, imensas, para irem à manif. É o que penso. Com essa postura terrível, silenciando a contestação á Troika e à União Europeia, parece que o seu maior interesse é então não hostilizar Bruxelas. Mas se o poder lhes cair nas mãos, que farão então com ele? Governar com a mesma folha de cálculo? Mudar de folha? Como? Onde teriam ganho o poder para forçar tal coisa? Livrem-me daqui, grita Pacheco Pereira.

Ora os nossos dois textos, o da quinta-feira negra e o da Manifestação da Troika, mostram que a maior máquina de intoxicação está em Bruxelas e não visar a capital do verdadeiro poder, e é então boicotar a possibilidade de queda dos mini-poderes que país a país se instalam ao serviço da potência dominante, a Troika. Bem haja pois à juventude quanto promove manifestações como esta.

Hoje regressamos com mais uma peça contra a mentira hilariante que vem de Bruxelas e dos seus lacaios, espalhados pela Europa agonizante. Damos uma olhadela a Espanha, a Espanha e ao seu ministro Guindos, damos uma olhadela a Itália onde num curto espaço de tempo dobrou o número de gente em situação de pobreza, e isto na terceira economia da UEM! E, por fim, damos uma olhadela à Holanda, um dos países do Norte, um dos membros do núcleo forte da União Europeia e a desfazer-se na austeridade que o sistema impõe! Para o efeito utilizamos a nossa ligação de Facebook com Edward Hugh, um dos grandes analistas da crise na Europa, a quem esta peça muito fica a dever.

E, assim, contrariamente ao gang dos cinco, queremos mostrar como se mente nesta Europa de milhões de desempregados e muitos desses milhões serão já desempregados para a vida.

E, assim, vem-nos o gang dos cinco falar da crise económica já ali ao dobrar da esquina, com a esquina já passada ou com a esquina a ultrapassar-se rapidamente.

E, assim, viva o combate à mentira, vivam as múltiplas manifestações que contra a Troika possam ser feitas.

E é tudo.

Coimbra, 31.10.2013

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Sobre Espanha:

Parte I

Bem, aqui está a “não notícia ” de hoje. A Espanha saiu da recessão no terceiro trimestre [parece-me que se está a falar de Portas e de Portugal, e da saída da recessão técnica. Natural, pois os mentirosos são do mesmo estilo]. Digo não notícias porque esta tem sido falada desde há tanto tempo que agora quase não conta como sendo “notícia”. Não há nenhum elemento de surpresa, ou será mesmo que não há ?

Aqui está o comunicado de imprensa do INE de Espanha:

“O produto interno bruto (PIB) gerado pela economia espanhola no terceiro trimestre de 2013 registou uma variação de 0,1%, em comparação com o trimestre anterior, de acordo com a estimativa de curtíssima duração a do PIB trimestral. Esta taxa foi superior em dois décimos à taxa registada no trimestre anterior (-0,1%).”

“A variação anual do PIB no terceiro trimestre de 2013 foi de (‑1.2%), em comparação com a taxa de ( ‑1.6% ) registada no segundo trimestre deste mesmo ano. Este resultado foi basicamente causado por um contributo negativo da procura interna, que foi compensado parcialmente por uma contribuição positiva da procura externa.

Abaixo junto a tabela fornecida pelo Banco de Espanha dando um pouco mais de detalhes. Como pode ser visto, o consumo das famílias subiu levemente no trimestre, em parte reflectindo o resultado levemente melhor de vendas a retalho no mês de Setembro. Mas a procura interna foi ainda negativa, devido ao facto de que o investimento e o consumo do governo estão em queda.

Então, como eles dizem, a procura interna negativa foi compensada pela procura externa. Mas espere-se um minuto, as exportações só subiram uns escassos 0,4%, após um aumento de 6% no segundo trimestre. Ah, mas então são as importações que caíram 0,7%, o que significa especificamente que neste trimestre é disto exactamente que cada um se anda a pavonear ao assinalar finalmente o regresso de Espanha ao crescimento, o valor sendo positivo devido à queda das importações. [Com efeito, o crescimento do PIB é de 0,1, a contribuição do sector externo para o crescimento do PIB é de 04, conforme indica a respectiva linha na tabela, e consequentemente o contributo da procura interna para o crescimento do PIB é de menos 03, pois o crescimento do PIB é 0,1=0,4 (o contributo do sector externo para o crescimento do PIB) + (- 0,3 ) (o contributo negativo da procura interna para o crescimento. Ora as exportações aumentaram apenas de 04, enquanto as importações diminuíram de 07. Daí o poder-se afirmar que o crescimento do PIB em Espanha é sobretudo devido a um dos grandes efeitos da recessão: a redução drástica das importações. Fica pois clara a afirmação de Edward Hugh].

Não é o que eles dizem em letras garrafais? A arte dos comunicados de imprensa.

(continua)

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