
Quadro de 1830, de EUGÈNE DELACROIX
De Londres enviaram-me um grande postal ilustrado com o célebre quadro de Delacroix, símbolo da República francesa e da Revolução, igualmente.
Um analista dos mercados financeiros? Interrogo-me sobre o verdadeiro significado do postal mencionado. Será que com ele se pretende dizer que a crise se vai agudizar ainda mais, na esteira de muitos economistas como Brad Delong e outros, será que ele se quer referir à revolta popular que logicamente irá estalar? Será por isso que ele me envia o referido postal com os votos de um Ano Novo feliz, muito feliz?
Já com este texto escrito, um amigo meu de longa data, homem de direito sobre os direitos e sobre as coisas tortas igualmente, embora na forma de tratarmos estas, os nossos pontos de vista divirjamos muito frequentemente, o que é saudável, mandou-me um poema ilustrado com este mesmo quadro. Curiosa a coincidência e belo é o poema que o quadro ilustra, e que passo a reproduzir:
“ Feliz Ano de 2014
O tempo que aí vem é uma águia
há muito proibida de voar.
Os meses que o transportam são de cinza,
cansados pelos sonhos que os deixaram.
Não fiquemos cercados, aflitos,
numa prece de angústia desmaiada.
Saibamos ser o vento imaginado
que de novo liberta o que há-de vir
E nos faça colher com um só gesto
o que foi duramente semeado.
(Autor: Rui Namorado)”
Estamos pois todos nós a falar da “crise”. Agora, a querer achar o sentido do postal de Londres enviado, façamos uma comparação rápida das várias recessões vistas através de um país que está fora da zona euro mas não dos seus efeitos, dispondo das vantagens, ou de parte delas, pelo menos, que reclama João Ferreira do Amaral para se poder sair da crise, mas que não sai da crise, mesmo com o seu enorme quantitative easing a ajudar. Um país que assume o estatuto de referência, por ter as vantagens de não estar na zona euro, por ter a desvantagem de ter como principais parceiros os estados membros da zona Euro já calcinados já pela crise do euro, por ter a vantagem de fazer quantitative easing, e por ter a desvantagem de utilizar o mesmo modelo de referência que a União Europeia, o modelo neoliberal. Refiro-me pois à Inglaterra.
Figura I – Particularidades entre as várias recessões desde a Grande Depressão de 1930
Durante os primeiros 15 meses, o declínio do PIB real é comparável com a Grande Depressão da década de 1930. A grande depressão mostra uma queda maior do PIB (-8.0%) relativamente ao seu pico. Todavia, após 33 meses, a economia inverte o ciclo e caminha rapidamente por um trilho de recuperação em direcção aos valores do início de 1930. Já a experiência de 2008-13 evidencia uma rara e contínua estagnação. Refira-se e realce-se a grandeza da lógica do New Deal aqui sublinhada contra a miséria dos fanáticos de Frankfurt, do BCE e do Bundesbank. Quer ele dizer que talvez no espaço inferior a um ano isto vai rebentar? Será isso?
Ainda na esfera das comparações entre vincadas recessões:
Figura II – Desemprego
Constatamos que o aumento do desemprego tem sido relativamente amortecido durante a recessão de 2008. Entre 2008-12, tem havido um crescimento surpreendente no emprego do sector privado – apesar do fraco investimento no sector privado e do fraco comportamento da despesa, em que estes últimos dados devem ser sublinhados pois referem-se à forma como se quer sair da crise, isto é, apoiados nas políticas de austeridade.
Figura III – Horas trabalhadas
Podemos observar que após 17 trimestres, aquando o valor de pico do PIB atingido, os níveis de emprego são mais animadores em 2008 do que nas outras recessões. Uma população crescente pode ser um factor, mas o amortecido aumento do desemprego sugere que o mercado de trabalho entre 2008-13 se revelou mais resistente e mais flexível do que muitos podem ter esperado, sobretudo bem mais flexível, a mostrar os efeitos da sucessiva liberalização do mercado de trabalho na Inglaterra.
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