Um professor de economia, o argonauta Júlio Marques Mota, responsável pelo sector de economia no nosso blogue, está a apresentar textos que abordam a necessidade de rever o ensino de economia, de o modernizar, apresentando alternativas à economia neoclássica, que assenta fundamentalmente na modelização do indivíduo, tratando-o como joguete de forças estranhas, inumanas, gigantescas e incontroláveis como os titãs da mitologia, como a oferta e a procura, os mercados, a globalização. Forças que não devemos aspirar a controlar, sob pena de cair sobre nós a cólera dos deuses.
Contudo, é preciso ousar. É preciso enfrentar estes poderes sobrenaturais. Já tivemos professores de economia de há muitos anos, que expunham pacientemente ao longo de todo o ano lectivo a matéria prescrita da sebenta, nos livros dos autores consagrados, e chegados ao fim do ano, informavam os alunos que todo a matéria dada era obsoleta. Este episódio ocorreu ainda antes de Francisco Pereira de Moura começar a ensinar no então Instituto Superior de Economia, o Quelhas, agora ISEG – Instituto Superior de Economia e Gestão. Mas o facto é que Pereira de Moura já faleceu, há vários anos, e o ensino de economia continua a privilegiar a economia neoclássica, oscilando entre a adoração dos deuses e algumas noções de contabilidade. Tudo isto, é verdade, entremeado com fortes noções de análise matemática, altamente abstractas.
Por isso propomos aos nossos leitores a leitura destes textos. Esperamos conseguir proporcionar alguma reflexão sobre estas matérias. Com todo o respeito, permitimos-nos recordar que as escolas de economia, que parecem estar a querer concorrer com as faculdades de direito, como local de formação de grandes individualidades do nosso país, têm grandes responsabilidades e têm de prestar contas sobre o contributo que dão. A formação não se limita a garantir aos alunos emprego na porta de saída. Uma análise real e sem peias dos problemas que afectam a sociedade em que estão inseridas tem de constar dos cursos ministrados. Os economistas não se podem limitar ao papel de manipuladores de crises ou de teóricos das curvas de ganhos e perdas. Têm de conhecer profundamente a sociedade em que estão inseridos e contribuir para o seu equilíbrio e para a sua melhoria. Os responsáveis não devem ter receio da crítica da juventude. Limitar-se a domesticá-la, cortar o seu ímpeto, é privar a sociedade de um dos seus trunfos mais importantes.