Malhão Bruxo
Letra e música: Popular (Minho)
Recolha: José Alberto Sardinha
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Cantigas do Sete-Estrelo”, Rádio Triunfo, 1985, reed. Movieplay, 1997)
[instrumental]
Ó Malhão, Malhão,
O Sete-Estrelo vai alto,
Mais alto vai o luar…
Ó Malhão, Malhão,
Adivinhai, meus senhores,
O que for de adivinhar!
– Para andar me põem capa,
Para andar ma vão tirar;
Se não posso andar sem capa,
Com capa não posso andar.
(o pião)
– Que lindos amores eu tenho,
Oh que lindos, oh que ingratos!
Andam por dentro das botas
E por fora dos sapatos.
(os tornozelos)
– Não sou frade nem sou monge,
Nem sou de nenhum convento;
Meu fato é de franciscano
E só de ervas me sustento.
(o grilo)
– Os homens me dão governo
E aos homens governo eu dou;
Quando se esquecem de mim,
O meu governo acabou.
(o relógio)
– Começo a vida num ponto
E num ponto hei-de acabar;
Nem que diga o nome todo,
Metade vem a faltar.
(a meia)
Ó Malhão, Malhão,
O Sete-Estrelo vai alto,
Mais alto vai o luar…
Ó Malhão, Malhão,
Bailai todos à porfia,
Que o Malhão vai terminar!
* Instrumentos: concertina, duas violas, viola braguesa, três cavaquinhos, bandolim, bombo, pandeireta e pinhas
Nota: «”Qual é a coisa, qual é ela?” E assim se anima o serão desafiando velhos e moças, espevitando a curiosidade e a participação de todos. E aí vem mais outra, encontrada agora mesmo no mais recôndito da lembrança antiga…
“Esta é que vocês não sabem!” E é assim que a palavra anda à roda, tecendo o fio mágico que liga jovens e adultos, transmitindo saberes que uns já esqueceram e outros ainda não adquiriram.
Este divertido “Malhão Bruxo” resulta da simples ideia de associar duas manifestações da tradição oral, a música e as adivinhas, companheiras amigas de tantos serões.» (Vítor Reino / Ronda dos Quatro Caminhos)
Quadrilha Velha
Música: Popular (Douro Litoral)
Recolha: Vítor Reino
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Cantigas do Sete-Estrelo”, Rádio Triunfo, 1985, reed. Movieplay, 1997)
(instrumental)
* Instrumentos: duas violas, dois bandolins e dois banjos
Nota: «Chegou a vez de uma dança menos efusiva, própria da calma dos grandes salões e ambientes interiores. Trata-se de uma quadrilha, antiga dança de origem francesa, difundida por toda a Europa ao longo do século XIX e introduzida em Portugal por ocasião das invasões napoleónicas. Tal procedência não impediu o nosso povo de a assimilar e moldar ao seu carácter, conferindo-lhe frequentemente um novo e inconfundível toque de sensibilidade.
Esta espantosa e requintada quadrilha foi-nos transmitida por um velho e exímio tocador de banjo, infelizmente já desaparecido, que não podemos aqui deixar de lembrar.» (Vítor Reino / Ronda dos Quatro Caminhos)
Reis do Oriente
Letra e música: Popular (Açores)
Recolha: Artur Santos
Música adicional: Vítor Reino
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Cantigas do Sete-Estrelo”, Rádio Triunfo, 1985, reed. Movieplay, 1997)
Os “Reises” do Oriente
Pela estrela guiados,
Cada um com seu presente
Em lindos camelos montados…
[instrumental]
Trouxeram da sua terra
O que havia de mais fino:
Trouxeram ouro, incenso e mirra
Para oferecer ao Deus Menino.
[instrumental]
«O frio cá fora corta,
Que até chega ao coração!
Faz favor de abrir a porta
Aos amigos que aqui estão.»
[instrumental / vozes]
* Instrumentos: duas violas, guitarra portuguesa, viola braguesa, bandolim, violino, flauta, bombo, pandeireta, guizos e pandeiro
Nota: «Os cantos de Janeiras e de Reis surgem intimamente associados à magia da noite, em que os costumes se abrandam e são toleradas certas liberdades sociais impensáveis à luz do dia. Grupos de homens e mulheres, unidos por um calor capaz de fazer face à temperatura agreste das mais geladas noites de Inverno, deslocavam-se ao longo dos povoados, pedindo de comer e de beber à porta de cada habitante, e deixando mal colocado todo aquele que fizesse ouvidos de mercador e não acorresse com a sua chouriça ou filhó.
Dos Açores nos chegam estes “Reis”, mais precisamente estas duas cantigas que acoplámos numa só, culminando com um trecho de dança por nós concebido para melhor simbolizar a debandada dos cantadores e, simultaneamente, o final deste encontro festivo dedicado ao Sete-Estrelo.
Assim acaba a função, com a mesma alegria do começo, talvez só com a ponta de nostalgia própria de quem chega ao fim de um momento de prazer…» (Vítor Reino / Ronda dos Quatro Caminhos)
* Ronda dos Quatro Caminhos:
Ana Rita Mendes da Silva – bandolins, banjo, cavaquinho, adufes, palmas e voz
António Prata – viola, viola braguesa, baixo acústico, palmas e voz
António Silva Lopes – bombos, pandeiro, palmas e voz
Fátima Valido – viola, cavaquinho, palmas e voz
João Cavadinhas – viola, conchas, palmas e voz
João Lima – viola braguesa, guitarra portuguesa, pandeiro, guizos, palmas e voz
Sérgio Contreiras – castanholas, pinhas, palmas e voz
Vítor Reino – viola, viola braguesa, concertina, banjola, fole, flautas, ponteiras, gaita-de-foles, pandeireta, palmas e voz
Participação especial:
Jorge Lé – violino
Direcção musical, arranjos e harmonizações – Vítor Reino
Técnicos de som – Paulo Junqueiro e Moreno Pinto
O Barbeiro
Letra: João Cavadinhas e António Prata
Música: João Cavadinhas
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Canções Tradicionais Infantis”, Schiu!/Transmédia, 1985, reed. Polygram, 1995)
[instrumental]
– Diga lá, ó senhor Gato:
Porque tem esses bigodes?
– Fui outro dia ao barbeiro
E ele não mos quis cortar.
Disse que gato sem bigodes
Mais parecia um pinguim,
Que a bigodes tão bonitos
Não era de se dar fim.
[instrumental]
– Diga lá, senhor Leão:
Porque tem esse cabelo?
– Fui outro dia ao barbeiro
E ele não mo quis cortar.
Disse que leão careca
Mais parecia uma avestruz,
Que leão só fica bem
De cabeleira ou capuz.
[instrumental]
– Diga lá, ó senhor Bode:
Porque tem essa barbinha?
– Fui outro dia ao barbeiro
E ele não ma quis cortar.
Disse que bode sem barba
Mais parecia um chimpanzé,
Que bode só fica bem
De barba grande e boné.
[instrumental]
Don Solidon
Letra e música: Popular (Estremadura)
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Canções Tradicionais Infantis”, Schiu!/Transmédia, 1985, reed. Polygram, 1995)
[instrumental]
Olha a menina, Don Solidon,
Como vai contente!
Ponha a mão na trança, Don Solidon,
Não lhe caia o pente!
Olha a menina, Don Solidon,
Como vai airosa!
Ponha a mão na trança, Don Solidon,
Não lhe caia o rosa!
[instrumental]
Olha a menina, Don Solidon,
Como vai bonita!
Ponha a mão na trança, Don Solidon,
Não lhe caia a fita!
Olha a menina, Don Solidon,
Com o seu raminho!
Ponha a mão na trança, Don Solidon,
Segure o lacinho!
[instrumental]
Cantiga de Roda
Letra e música: Popular
Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Canções Tradicionais Infantis”, Schiu!/Transmédia, 1985, reed. Polygram, 1995)
[instrumental]
Alfinetes são biquinhos,
Agulhas variedades;
Amores em terra alheia
Deixam muitas saudades.
Amangar, amangar,
Amangar, amangação!
Hei-de ser tua cunhada
Se casar com teu irmão!
[instrumental]
Da minha janela à tua,
Do meu coração ao teu
Há um navio de amores
E o marinheiro sou eu.
Amangar, amangar,
Amangar, amangação!
Hei-de ser tua cunhada
Se casar com teu irmão!
[instrumental]
* Ronda dos Quatro Caminhos:
António Prata – voz, viola, viola braguesa, violino, harmónio e flauta
António Silva Lopes – voz, bombo, caixa, pandeireta, ferrinhos, martelinho, pinhas, guizos e pratos
Fátima Valido – voz, banjola, bandolim, cavaquinho, adufe e pandeireta
João Cavadinhas – voz, viola, baixo acústico, harmónica, cazu, tambor, pandeiro e berimbau
Produção, arranjos, harmonizações e direcção musical – Ronda dos Quatro Caminhos
Gravado nos Estúdios Namouche, Lisboa, em Setembro de 1985
Técnicos de som – Joca e Jorge Barata