Celebrando a Ronda dos Quatro Caminhos – 9- por Álvaro José Ferreira

Chula de Paus

Letra e música: Popular (São Pedro de Paus, Resende, Douro Litoral)

Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Amores de Maio”, Contradança, 1986, reed. Ovação, 1992, 1997)

[instrumental]

Já lá vem o mês de Maio, [bis]

Tempo de tomar amores,

Não há tempo mais bonito [bis]

Que o Maio com suas flores.

[instrumental]

Já chegou o mês de Maio [bis]

Com suas variedades:

Deixa os campos em flor [bis]

E no meu peito saudades.

[instrumental]

* Instrumentos: duas violas, quatro violas braguesas, três violinos e bombo

Nota: «Cada vez menos usado pelos tocadores populares, o violino tem nesta lindíssima chula de São Pedro de Paus uma linha melódica e uma pulsação ímpares, que a tornam num espantoso exemplo de uma das mais belas canções bailadas portuguesas.» (Ronda dos Quatro Caminhos)

Saudade

Letra e música: Popular (Açores)

Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Amores de Maio”, Contradança, 1986, reed. Ovação, 1992, 1997)

[instrumental]

Ai as saudades são tantas (minha saudade)

Que eu por ti tenho às vezes,

Que até l’as mando espalhar (minha saudade)

Por cima dos campos teus.

São tantas as saudades (minha saudade)

Que nem as posso contar:

São tantas como as estrelas, (minha saudade)

Como as areias do mar.

[instrumental]

Dizem que a saudade espera (minha saudade)

Ausência para chegar;

Eu tenho saudades tuas (minha saudade)

Mesmo antes de te deixar.

Já lá vai Abril e Maio, (minha saudade)

Já lá vão estes dois meses;

Só não se vão as saudades (minha saudade)

Que eu por ti tenho às vezes.

[instrumental]

* Instrumentos: quatro violas de arame e violino

Nota: «Instrumento tipicamente açoriano (embora seja conhecido e utilizado também na Madeira), a viola de arame acompanha à maravilha o canto repousado e suave dos cantadores.

Com cinco ordens de cordas (duas triplas e três duplas) e uma afinação semelhante à da viola comum, possui uma sonoridade por vezes grosseira, por vezes doce, mas sempre enleante, quer quando soam as cordas mais graves no desenho dos baixos, ou quando se evidencia um trecho melódico.

Conhecida e utilizada em todo o arquipélago, apenas na ilha Terceira a viola tem outras características, apresentando seis ordens de cordas (três duplas e três triplas).

Saudade! Saudade dos que partiram, dos que ficaram, de um amor ausente?! Sentir-se-á ainda, após tantas e tantas gerações, a nostalgia dos primeiros povoadores? De qualquer modo é a saudade o sentimento inspirador de algumas das mais belas quadras da poesia popular açoriana.» (Ronda dos Quatro Caminhos)

Chula de Piães

Letra e música: Popular (Minho)

Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Amores de Maio”, Contradança, 1986, reed. Ovação, 1992, 1997)

[instrumental]

Ó rapazes, vamos ao vira,

Que o vira é bailação!

Eu gosto de dançar o vira

Do fundo do coração.

Ó tocador de viola,

Dizei se quereis ou não

Oh que eu cante uma cantiga

Ao toque da vossa mão!

[instrumental]

Ai toca-me nessa viola,

Toca-me nela sem medo!

Se as cordas se arrebentarem

Aqui tens o meu cabelo.

A viola quer que eu cante,

Quer que eu cante e não padeça;

E o tocador que a toca

Quer que eu por ele endoudeça.

[instrumental]

* Instrumentos: duas violas, duas violas braguesas, quatro cavaquinhos, concertina e dois bombos

Nota: «Acompanhada pelos habituais cordofones das Rondas, a concertina convida ao baile. É a chula, o malhão, o vira, o verde-gaio.

E se o baile está no princípio, não falta a voz fresca e atrevida de uma jovem a incentivar os tocadores, a desafiar os bailadores.

E enquanto a caneca do verde passa de boca em boca, o baile promete amores, cumpre desejos, semeia!» (Ronda dos Quatro Caminhos)

Mariana Campaniça

Letra e música: Popular (Baixo Alentejo)

Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Amores de Maio”, Contradança, 1986, reed. Ovação, 1992, 1997)

[Moda:]

E a Mariana Campaniça

Que lindos olhos que tem;

Do Monte da Légua às Pias,

E à missa não vai ninguém.

E à missa não vai ninguém,

E à missa já ninguém vai;

E a Mariana Campaniça,

Coitadinha, não tem pai.

[Cantiga:]

É tão longe do céu à terra

Como é da morte à vida;

Do meu coração ao teu

É uma estrada seguida.

[Moda:]

E a Mariana Campaniça

Que lindos olhos que tem;

Do Monte da Légua às Pias,

E à missa não vai ninguém.

E à missa não vai ninguém,

E à missa já ninguém vai;

E a Mariana Campaniça,

Coitadinha, não tem pai.

* Instrumentos: viola campaniça

Nota: «Cantiga muito divulgada em todo o Baixo Alentejo, dolente, com uma melodia simples mas expressiva, é um bonito exemplo do tipo de canto mais estritamente ligado à viola campaniça.» (Ronda dos Quatro Caminhos)

Sapateia

Letra e música: Popular (Açores)

Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Amores de Maio”, Contradança, 1986, reed. Ovação, 1992, 1997)

[instrumental]

Pus-me a brincar com a rosa,

Piquei-me nos seus piquinhos;

É um bem que assim aconteça

Quem com a rosa tem brinquinhos.

Esta é que é o sapateia:

Eu fui ao ar num balão,

Faltou-me o gás e caí

Dentro do teu coração.

[instrumental]

Adeus, meu botão de rosa,

Adeus, minha branca flor!

Adeus, jóia do meu peito,

Meu delicado amor!

Esta é que é o sapateia:

Eu fui ao ar num balão,

Faltou-me o gás e caí

Dentro do teu coração.

[instrumental]

* Instrumentos: quatro violas de arame

Nota: «Comum a todas as ilhas, a(o) sapateia não difere na coreografia de outros “balhos” açorianos: formam-se duas rodas, uma interior, a das mulheres, e outra exterior, a dos homens. As rodas movimentam-se sobre a esquerda, e outrora os tocadores e cantadores também “balhavam”.

Para tocar a sapateia é frequente alterar-se a afinação da viola, baixando de um tom a quinta corda: de Lá para Sol.» (Ronda dos Quatro Caminhos)

Baile da Meia-Volta

Letra e música: Popular (ilha de Porto Santo, Madeira)

Intérprete: Ronda dos Quatro Caminhos* (in LP “Amores de Maio”, Contradança, 1986, reed. Ovação, 1992, 1997)

[instrumental]

É que o baile da meia-volta,

Que vai ao meio e volta ao lado,

São recordações antigas:

Que ainda hoje é lembrado.

Caminhei do Porto Santo,

Passei nas ondas do mar,

Só p’ra te fazer a vontade

De vir à Madeira cantar.

[instrumental]

* Instrumentos: duas violas, duas violas de arame, rajão, violino e pandeiro

Nota: «É a primeira vez que interpretamos uma canção popular do arquipélago da Madeira. Sobre o “Baile da Meia-Volta” (Porto Santo) nos tinham já alertado para a sua invulgaridade, para o exotismo da sua melodia, da sua cadência, para a sensualidade que se desprende do violino e da voz dos cantadores. Bailava-se a noite inteira – contam.

Entre os instrumentos de acompanhamento é de salientar o rajão, pequeno instrumento de cinco cordas, de uma sonoridade rude, que se toca sobretudo de rasgado, e é apenas utilizado na região.

Naturalmente numa versão abreviada, falta à nossa interpretação uma voz que constantemente incentiva os cantadores e bailadores.» (Ronda dos Quatro Caminhos)

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