EDITORIAL – O GOVERNO SEM A TROIKA

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Parece que a troika nos vai mesmo deixar em Maio ou Junho deste ano. E que Paulo Portas tem algures um relógio a contar o tempo que falta para o fim do programa de resgate. Entretanto Cavaco Silva não considera aconselhável para Portugal uma saída à irlandesa, isto é, acabar o programa da troika sem mais nada. Defende um programa cautelar. Parece haver assim uma diferença de opiniões entre o vice-presidente do governo, e o presidente da república. Contudo, o que haverá será apenas uma diferença de posições. Um não sabe  se estará no governo por muito tempo, e tem a certeza de que em breve vai ter de disputar eleições, sozinho com o seu partido. O outro sente-se bem em Belém, e percebe que estará mais tranquilo no resto do seu segundo mandato protegido por um acordo com a Europa. Ao fim e ao cabo, tem tido de proteger o governo bastante mais do que esperava. Fica mais seguro desculpando-se com Bruxelas. Este ano ainda vai ter o Durão Barroso lá na Comissão Europeia  a dar uma ajuda. Para o ano, em 2015, são as legislativas. Convém ir dando a entender que a Europa quer o PSD no governo.

Num programa de televisão a noite passada, alguém disse que o grande problema português é não haver ideias para o país, nem no governo, nem na oposição. Não é bem assim. Ideias há, mas nem sempre são boas, e depois há dificuldade em aplicá-las. No programa houve também que se queixasse de uma certa incapacidade atávica de lutar contra o rumo dos acontecimentos e de introduzir alterações de fundo no rumo dos acontecimentos. Também não é correcto. O que tem faltado aos portugueses é um sentimento colectivo forte, que os levasse a introduzir mudanças significativas nos seus dirigentes e nas suas atitudes. Os portugueses lutam muito, mas lutam sós. Daí a opção quase sistemática de enfrentar as dificuldades emigrando. A emigração é uma opção individual, no máximo familiar. Passos Coelho sabia bem disto quando falou de emigração aos portugueses. A decisão de derrubar um governo, de derrotar a oligarquia dominante, tem de ser colectiva. É aqui que está o busílis. Os nossos dirigentes não lutam, nem querem dificuldades. Têm sempre à mão o recurso fácil de cortar quem está por baixo. E os emigrantes também vão mandando remessas. Para quê estragarem um estado de coisas tão agradável, para eles, claro.

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