Em 1768, o Marquês de Pombal institui a modalidade “RODA” – com o objectivo de diminuir os infanticídios. Ficavam adstritas a hospitais ou albergarias de cada cidade (em Lisboa o Hospital de Todos os Santos). Num mecanismo cilíndrico, composto por duas partes, uma côncava e outra convexa, que giravam sobre si mesmas, eram depositadas as crianças cujos pais não podiam ou não queriam com elas ficar.
Dizem-nos fontes histórica que, muitas vezes iam acompanhados de “sinais” que mais tarde poderiam possibilitar o reconhecimento da criança. Esta era registada à entrada, assim como tudo o que a acompanhava. Se trazia nome, esse ficava. Caso contrário recebia o do santo do dia. Mas muitas das crianças já chegavam cheias de problemas de saúde pois as condições de vida eram precárias, os cuidados com elas reduzidos… e a mortalidade rondavam os 80%! As crianças até aos 3 anos eram entregues a amas a viver no campo, até aos 7 permaneciam em asilos e a partir daí iam aprender um ofício.
Em Lisboa, a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, por mão do Conde de Rio Maior, extinguiu este “Serviço” em 1870, atribuindo pequenos subsídios a mães “indigentes”. E muitas das crianças passaram de “expostas” a “encobertas” – aquelas cujas mães as não queriam registar. E as que as registavam, era sem nome de pai, o que as autoridades consideravam melhor do que a situação anterior. Por essa altura, essas mães podiam ficar com seus filhos até um ano, a expensas da SCML, como que a servir de “amas de leite” dos próprios filhos.
Sabemos que em 1870, altura da extinção da Roda, havia 2 879 crianças “expostas”; em 1871 havia 1692 crianças “encobertas”; em 1972, 449. Em 1977, decorrentes do Dec.-Lei nº 496/77, foram criados Serviços de Adopções, tendo a legislação já sofrido várias alterações. O nosso grande Aquilino Ribeiro descreveu assim esta situação:
“Nas sombras da alba, os vultos de túnica e cogula, ou embocados em largos capotes, que se viam deslizar pelas vielas que vinham desembocar ao Rossio, levavam contrabando: os infalíveis naciturnos para a Roda. …. Espreitavam-se das esquinas para evitar encontros molestos, pois que na cidade, dizimada pela peste e as aventuras ultramarinas, todos se conheciam. O aparelho fazia certo restolhadeiro a girar, se não era o vagido da criança que avisava. E logo uns braços profissionais, e no entanto os melhores braços caritativos daquele século, pegavam no recém-nascido.”
– Aquilino Ribeiro – “Príncipes de Portugal, suas grandezas e misérias”.
Há tempos também li um texto teu sobre “a roda” de que gostei muito, até te pedi a foto da roda.
Li este e, como no outro, emocionei-me ao pensar na vida dessas crianças e da vida das mães. Realmente não se conseguirá o bom senso para minimizar estas situações?
É sempre bom relembrar o passado e compará-lo com o presente.