PENSAR DIFERENTE, IMPACTOS HUMANITÁRIOS DA CRISE ECONÓMICA NA EUROPA – UM RELATÓRIO DA CRUZ VERMELHA INTERNACIONAL E DO CRESCENTE VERMELHO (EXCERTOS).

Selecção, tradução, organização e introdução por Júlio Marques Mota

IFRC-logo

Pensar diferente, impactos humanitários da crise económica na Europa

Um relatório da Cruz Vermelha Internacional e do Crescente Vermelho (excertos)

PARTE XVI
(CONTINUAÇÃO)

Centros de acolhimento em massa

A Cruz Vermelha islandesa contactou outras organizações nórdicas da Cruz Vermelha para lhes pedir conselhos quanto à forma de actuar. Estas já tinham actuado por diversas vezes em resposta às severas crises económicas nos seus próprios países durante os anos 90. Igualmente fez o levantamento das suas possibilidades de actuação tendo em conta a nova realidade presente, comparando ou tendo em conta o auxílio que as outras agências e organizações estavam a conceder e decidiram-se eventualmente por se centrarem na prestação de apoio de serviço psicossocial.

Uma série de spots de televisão, onde os psicólogos da Cruz Vermelha discutiram os traumas e a forma de como se deve lidar com eles, foram transmitidos através da principal cadeia de televisão estatal do país.

Na Islândia, o papel da Cruz Vermelha dentro do sistema de protecção civil face aos potenciais desastres é definido claramente e foi decidido responder à crise económica pelos mesmos meios, baseando as nossas acções na capacidade de resposta aos desastres da National Spciety.

Em Março de 2009, abrimos um enorme centro de acolhimento na capital Reykjavik, onde às pessoas lhes eram fornecido apoio psicossocial e aconselhamento. O centro começou com programas recreativos de modo a que os desempregados pudessem definir uma agenda para ocupar os seus dias e, desta forma, preencher o vazio. O aconselhamento financeiro foi outro elemento importante, bem como o fornecimento de informações sobre os direitos das pessoas e sobre a assistência disponível no sistema da Segurança Social existente, explica. Sólveig Ólafsdóttir

Após o sucesso inicial em Reykjavik, estes programas foram depois igualmente aplicados noutros centros.

Uma forte ênfase foi posta sobre o voluntariado. Os voluntários tomaram conta das tarefas diárias e desempenharam um papel decisivo no apoio prestado enquanto, por outro lado, foram contratados gestores para coordenar estes centros voluntários.”

A Cruz Vermelha da Islândia também tem trabalhado em estreita colaboração com as autoridades nas áreas de desemprego e de assistência social para grupos vulneráveis. Um dos programas incluí 3 meses de apoio individualizado destinado aos desempregados vítimas da exclusão social feito com pessoal com formação própria para o efeito.

“Um acordo com as autoridades considerou o isolamento social e a dependência de sistemas de segurança social como situações em excesso devendo-se tentar motivar as pessoas sem emprego. Fizemos um contrato com a Directorate of Labour e havia um representante do chamado Welfare Watch, uma comissão que foi criada pelo Ministério da Segurança Social e que permanece activo até hoje. Foi criado um programa especial para jovens desempregados e foram proporcionadas actividades de férias de verão gratuitas aos pais que já não podem pagar as actividades recreativas e de férias aos seus filhos,” recorda Sólveig Ólafsdóttir.

A Cruz Vermelha Islandesa só agora regressou ao seu funcionamento de tempo normal. A estratégia seguida foi a de responder ao máximo possível tanto quanto a organização considerou que se estava perante uma brutal e repentina catástrofe mas à medida que o tempo passou a situação foi-se normalizando. Entretanto, a crise económica deixou a Cruz Vermelha Islandesa com uma grande diminuição de receitas e com um enorme desafio pela frente, o desafio de se que ajustar à nova realidade.

Espanha: Agora, mais do que nunca

Quando a Cruz Vermelha espanhola se ligou com uma emissora de TV nacional no início de 2013 fazendo uma campanha para conscientizar e obter fundos para aqueles que estavam em risco de perder as suas casas, eles tiveram uma surpresa: quase uma em cada três chamadas para a linha directa de entrega de donativos não era para dar donativos mas em vez disso, de pessoas que pediam ajudam para pagar o aluguer da sua habitação ou da sua hipoteca.

“Isso mostra a crescente procura de apoio,”, diz José Javier Sánchez Espinosa, o director-adjunto do departamento de inclusão social da Cruz Vermelha espanhola.

Durante um período de seis meses desde o lançamento deste programa, a Cruz Vermelha de Espanha entrou em contacto com mais de 6.000 famílias que estão em extremas dificuldades para conservarem as suas casas.

“Tentamos ajudar o mais rapidamente que nos é possível, logo que se tenha conhecimento da situação de dificuldades económicas das pessoas que se nos dirigem. Estamos a utilizar o nosso questionário’ social’ para obter uma visão geral da situação da família e poder fazer um plano de como a poderemos ajudar. Muitas vezes, nós podemos fornecer comida ou outras formas de assistência, o que significa que a família pode poupar algum dinheiro para pagar o alugar da casa e serviços públicos associados”, diz José Espinosa.

“Porém, muitas vezes é demasiado tarde, ou pelo menos muito difícil, uma vez que o processo legal de despejo já se tenha iniciado. É muito melhor que seja feito com uma intervenção precoce; neste caso há realmente bem mais possibilidades em poder ajudar uma família a manter a sua casa”.

(continua)

______

Para ler a parte XV deste trabalho, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá:

PENSAR DIFERENTE, IMPACTOS HUMANITÁRIOS DA CRISE ECONÓMICA NA EUROPA – UM RELATÓRIO DA CRUZ VERMELHA INTERNACIONAL E DO CRESCENTE VERMELHO (EXCERTOS).

1 Comment

Leave a Reply