Novas Viagens na Minha Terra – Série II – Capítulo 179 – por Manuela Degerine

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Sabedoria gastronómica

Os ovos permanecem intactos, vou eu agora toda partida, com o chão galego preso às botas, quantos passos ainda darei, doem-me os ombros, as costas, os pés e, em particular, a coxa direita. Faço uma pausa. Avanço mais um pouco, ultrapasso o coreano; atravesso um pinhal com tojo amarelo e grandes pedregulhos. Volto a parar – porém o alívio está para a frente. Em Ponte Olveira os portugas também jazem com ar moribundo. Avante. Mais dois quilómetros… Meia hora de caminhada! Parece-nos o fim do mundo.

O albergue de Olveiroa foi instalado em diversos edifícios, casas, escolas, um espigueiro; paredes de granito, portas e janelas azuis. A alberguista não chegou mas podemos instalar-nos. Poiso a mochila (hoje com cuidado) e de imediato a fadiga desaparece; o cansaço resulta do mesmo movimento na mesma postura. Tomo duche. Lavo a roupa. Faço arroz com legumes, especiarias e frutos secos. Faço uma – sumptuosa – omelete com queijo e tomilho.

Tudo me parece divinamente saboroso. As sensações gastronómicas durante e após uma longa caminhada equivalem aos sublimes sabores da infância, por consequência sou aqui muito exigente quanto à qualidade dos ingredientes, uma estratégia semelhante à de Zé Fernandes –”A Cidade e as Serras” – quando opta em Montmartre por não beber cerveja.

– Estou a guardar esta sedezinha para logo, para o jantar, com um vinhozinho gelado!

A sociedade de consumo prodiga quantidade sem qualidade, logo o nosso fastio está por demais justificado, porém o Caminho de Santiago – dispêndio de energia, quebra dos hábitos, ocorrências imprevistas – pode proporcionar-nos experiências gastronómicas algo surpreendentes… Não é o seu mínimo atrativo.

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