CONTOS & CRÓNICAS – “Paula Maria” – por Margarida Ruivaco

contos2

A partner de circo, esposa do Artista principal, está à porta e cobra os bilhetes. Conta, de cabeça, quem entra, e concluí que a noite nem vai dar para a sopa…

Quando, já passada a hora, calcula que poucas mais pessoas chegarão, acena ao Artista, ele confirma noutro aceno e o homem passa a apresentar o espectáculo.

As coisas não correm bem, o som, ora estridente, ora abafado, ou sumido, as vozes arrastadas da apresentação, mas o Artista, com alguma calma, apesar dos nervos à flor da pele, vai compondo, orientando, instrumentando a mulher e os filhos.

Paula Maria, lá vai dançando, abanando as pernas, meneando as ancas, enquanto colabora nos números que o Artista vai fazendo, apresentando, sonorizando e iluminando. Olha para os filhos, com ar ternurento, e aperta-se-lhe o coração ao ver o pequenito embrulhado num casaco do pai, a cabecear de sono. O seu fato brilhante, piroso, bem o sabe, é desconfortável, artilhando de tanta coisa para os próximo número.

O Artista prossegue, e durante quase duas horas, desbobra-se em funções e prestações, num esforço de agradar e seduzir o público. Cansado, mas sorridente. Desanimado, mas lutador. Pobretanas, mas honesto.

Paula Maria sorri-lhe a todos os segundos, reconhecendo o homem Bom com quem se casou.

E só por isso não desiste desta triste vida itinerante, levando um circo da treta aos miúdos das aldeolas, o sonho do Artista de coração bondoso, que a coroa como a mais bela das rainhas com tiaras de flores de papel recortadas atrás das costas.

Leave a Reply