EDITAR COM BASE EM ESTUDOS DE MERCADO? OU CONFIAR NO INSTINTO? – por Carlos Loures

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Depois de se ter concluído que em marketing editorial o instinto vale pouco e os estudos de mercado é que permitem avaliar o que se deve ou não lançar, vem um mestre da edição dizer que editar é uma questão de instinto. Em que ficamos?

Quando aqui falei dos editores, referi-me sobretudo aos pequenos editores que se guiam pelo seu instinto, e não têm meios de testar o feeling pelo qual orientam a produção. Hoje volto aos editores, mas dando a palavra a um grande editor internacional – Peter Mayer, presidente da Overlook Press e ex-presidente da Penguin. Entrevistado por Juan Cruz, do El País, fez, entre muitas outras, uma afirmação desconcertante: «Editar é uma questão de instinto». Na Penguin, onde esteve entre 1978 e 1996, foi a alma desta editora. A caminho dos 80 anos, está agora à frente da Overlook, uma pequena empresa que foi de seu pai e que ele transformou numa editora altamente competitiva. Não vou transcrever a entrevista, mas apenas referir algumas das curiosas opiniões  de Peter Mayer.*

 Sobre o futuro da edição, opina que não se deu suficiente atenção a pessoas como Marshall McLuhan. Pensámos todos que ao dizer que o meio é a mensagem, fora apenas engenhoso. As transformações da nossa época,  nomeadamente a evolução tecnológica, produziu mudanças na cultura em geral o que afecta o universo do livro. O mundo está interligado de forma inimaginável. Porém, esta ligação faz-se mais à informação do que à imaginação e isso entristece-o.  Mergulhados num espesso caldo de informação estamos menos concentrados. O trabalho do editor, embora a função seja a mesma, está a mudar. O público depende menos do editor, tem tanto acesso á informação como ele. A intermediação do editor está a ser democraticamente eliminada. A tecnologia avança a uma tal velocidade que impossibilita a edição de alguns livros. Quando o livro chega ao mercado a informação já está obsoleta. Os jovens de hoje se querem saber o que se passou no Egipto não consultam os jornais, mas a Internet. A ficção e o teatro acabam por ser os géneros menos afectado. A Guerra e paz tem hoje a mesma relevância que tinha há um século.

A cultura da livraria terá que mudar – a tendência á para que haja menos livrarias e esta diminuição afectará os centros de  cultura nas nossas cidades.  Cadeias de livrarias como Barnes & Noble, o que mais vendem agora são máquinas para ler livros electrónicos. Os custos de impressão e de publicação aumentaram e o preço terá que subir. Como os livros serão mais caros, as pessoas serão levadas a optar pelos e-books.

Sobre os escritores, Mayer opina que enquanto houver livros tal como os conhecemos, os escritores famosos continuarão a vender livros impressos e e-books. Talvez em maiores quantidades. Os autores menos conhecidos, ou desconhecidos, talvez não possam publicar livros da maneira tradicional. Talvez os publiquem apenas como e-book ou talvez os editem eles mesmos. Deixarão de ter a avalizar os lançamentos chancelas de casas editoras. A auto edição irá crescer. Cada vez haverá mais autores que terão de recorrer a esse meio para poder publicar os seus livros. Entre nós, começa a ser comum tal meio. Garantindo a compra de 200/300 exemplares da sua obra a um preço de cerca de 50% do preço de capa, há empresas que se encarregam de produzir os livros e de os distribuir pela rede de vendas. Esta nova realidade não afectará apenas os escritores, mas toda a comunidade – editores, agentes, distribuidores, livrarias, revistas, jornais…

A maioria dos escritores, sobretudo os ficcionistas, continuará a escrever, aconteça o que acontecer na indústria editorial. São escritores. Precisam de escrever. Talvez se torne mais difícil ainda viver da escrita. Herman Meville, continuou a escrever apesar de os seus livros não se venderem. E criou  Moby Dick e Billy Budd porque tinha de escrever. Do ponto de vista de um escritor sério, a literatura continuará viva. No entanto, actualmente o editor corre riscos excessivos protegendo e apoiando o escritor. Daí o crescimento da auto-edição. Sobre o papel dos blogues no marketing editorial, diz «Não creio que os blogues tenham muita credibilidade, acredito mais no boca a boca, e isso cada vez terá mais importância. As redes sociais multiplicar-se-ão e este será o tipo de marketing que se fará». É uma opinião bem argumentada, mas aparentemente desconcertante. Por isso, continuaremos a analisá-la.

 

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