COMO SE MATA UM PRESIDENTE – 24 – por José Brandão

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As conclusões 35.ª e 36.ª da autópsia efectuada no dia 17 de Janeiro de 1919 pelos Doutores Asdrúbal D’Aguiar e Geraldino Brites indicam que um único projéctil atingiu mortalmente Sidónio Pais, tendo sido disparado pela frente e pela direita do presidente, a uma distância não inferior a 32 centímetros da boca da arma.

«A região atingida», diz a conclusão 35.ª, «é das procuradas quando há intenção de matar.»

Por sua vez, a conclusão 36.ª indica que «a arma examinada é das utilizadas quando há intenção de matar».

Tratava-se de uma pistola belga da marca FN Browning’s, com o n.º 643:253 e com um peso de 597 gramas. As munições utilizadas eram de calibre de 7,5 milímetros e no carregador podia levar 8 balas, apesar de ser normalizado para 7.

Onde José Júlio da Costa a tinha obtido não se sabe bem.

Viera de Garvão, pequena vila do Baixo Alentejo, que o vira nascer há 25 anos atrás, e da sua vida conhece-se a participação na Rotunda, ao lado de Machado Santos, nos dias 4 e 5 de Outubro de 1910, além de uma longa permanência militar por terras de Moçambique, de Timor e de Angola, onde combateu na famosa batalha de Naulila, em 18 de Dezembro de 1914.

Com 16 anos tinha-se oferecido como voluntário para a tropa e ainda não completara os 17 quando a revolução de 5 de Outubro o encontra como soldado no Regimento de Infantaria 16, tendo sido, assim, um dos primeiros a participar nesta importante acção revolucionária, dado que o seu regimento, sublevado por Machado Santos, foi um dos baluartes da revolta.

Quando abandonou o Exército, em 11 de Abril de 1916, vinha já com o posto de segundo-sargento, contando, na sua folha de serviços, com um louvor em que era mencionado o seu «grande patriotismo e boa vontade de desempenho de todos os serviços que era encarregado».

Logo que começou a Primeira Guerra Mundial, veio oferecer-se à Embaixada da França, em Lisboa, como voluntário para combater contra a Alemanha, mas, como não conseguisse passaporte, José Júlio da Costa teve de desistir da ideia.

Regressado a Garvão, Júlio da Costa casa com Maria do Rosário Pereira, senhora de bens que, doravante, passam a ser administrados pelo marido.

Bastou a José Júlio saber ler e escrever para passar a ser a pessoa mais cotada da terra, quer como lavrador, quer como comerciante, quer, ainda, como político.

É presidente da Junta de Freguesia e quando acontece a greve geral de 18 de Novembro de 1918 toma partido ao lado da repressão, acompanhando a GNR na perseguição aos camponeses grevistas.

Em Garvão ganhara fama de valente pela sua atitude violenta em defesa da propriedade privada e pelas histórias que contava sobre as façanhas em que estivera envolvido durante a sua estada em Angola e em Timor.

Quando, em Dezembro de 1918, chega a Lisboa para levar a cabo o seu plano, traz consigo a mulher e um moço sapateiro, de nome Caetano, bom tocador de guitarra, que pretendia fixar-se na capital. No dia 12 mandou os dois de regresso a Garvão e instalou-se no Hotel Internacional, no Rossio.

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2 Comments

  1. Obrigado pelo excelente artigo.
    Procuro a confirmação de José Júlio da Costa ter sido presidente da Junta de Freguesia de Garvão. Sabe me informar onde poderei ter essa informação?.
    Com os melhores cumprimentos
    José Pereira Malveiro

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