ERAM 4:30 – foi no dia 9 de Abril de 1918 – por Carlos Loures

 

No dia 9 de Abril de 1918, no sector de Ypres, na região da Flandres, em território belga começou a batalha de La Lys. CercaImagem3 das 4:30, oito divisões do 6º Exército Alemão, com 55 mil homens comandados pelo general Ferdinand von Quast, atacaram o sector português, sabendo-o mais vulnerável – era a operação com o nome de código Georgette. A batalha iria durar quase três semanas, até 29 de Abril, mas logo nas primeiras quatro horas de combates, as tropas portuguesas, entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros, perderam cerca de 7500 homens. Uma hecatombe. A frente desenvolvia-se numa linha de 55 quilómetros. Cerca de 84 mil homens compunham o 11° Corpo Britânico, no qual estava integrada a 2ª divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP) – aproximadamente 20 mil homens, com 15 mil ao longo das primeiras linhas, sob o comando do general Gomes da Costa. Por que razão se encontravam ali as tropas portuguesas?

 Quando deflagrou a guerra em 1914, sabia-se que para além dos motivos invocados, por detrás das razões históricas e do palavreado pomposo das diplomacias, o que estava verdadeiramente em causa eram questões económicas, conflitos de interesses – uma Alemanha com pouco mais do que quatro décadas, moralizada pela humilhante derrota imposta à França na guerra franco-prussiana, entendia que tinha direito a uma nova divisão dos recursos naturais e dos territórios coloniais onde existiam esses recursos. Para quem não percebesse o que estava por detrás, estranharia a posição britânica que se opôs enquanto pôde á entrada de Portugal no conflito. É ridículo, mas a diplomacia portuguesa obteve um vitória quando foi aceite o envio de tropas. Na realidade, Portugal possuía colónias de uma excessiva dimensão para a sua pequenez territorial e para o seu reduzido peso na política internacional. Não só os alemães pensavam assim – era uma tese quase consensual na Europa do princípio do século XX. A França, a Alemanha e a nossa velha aliada, a Inglaterra, estavam de acordo com os alemães quanto a esta «aberração». Mas havia outros pretendentes a «ajudarem-nos» a tomar conta das colónias – Itália e Bélgica, por exemplo. O valor económico e geoestratégico do império colonial português era motivo de cobiça por parte das grandes e médias potências da época que alegavam que um país tão pequeno e pouco desenvolvido carecia de capacidade para promover o desenvolvimento de territórios tão vastos. Por outro lado houve a vontade de nos afirmarmos no concerto das nações e de esconjurarmos o eterno fantasma da anexação pela Espanha que, desde a implantação da República, ganhara corpo e aparecia como uma ameaça muito real. Defender a posse do império colonial e afirmar a identidade nacional face à gula hegemónica de Madrid, levaram à entrada de Portugal na guerra,

Imagem1A Batalha de La Lys foi uma das mais desastrosas de toda a história portuguesa. Os mitos foram muitos, quase criando no imaginário popular a ideia de que se tratou de uma vitória. Mas, sendo uma inegável derrota, parece ser evidente que o sacrifício dos soldados portugueses proporcionou aos britânicos tempo para se estabelecerem em posições favoráveis. As forças britânicas, mais bem equipadas e mais disciplinadas, ao eclodir a ofensiva, recuaram para posições à retaguarda. Os flancos do nosso Corpo Expedicionário ficaram expostos, sendo envolvidos pelas sucessivas vagas da infantaria germânica apoiada por artilharia – a chamada «carne para canhão»

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