Reparei que ontem, num passado já longínquo, tinha nascido Mário de Sá-Carneiro. O poeta incompreendido e pouco conhecido no seu tempo(ele próprio vaticinou que o seria no futuro…), o poeta dos paradoxos, da fragmentação, do desejo de uma totalidade nunca alcançada. O poeta que teatralizou a dor. O poeta cuja leitura dos seus poemas nos deixa a sensação de sempre ter sentido a falta de algo, permanentemente na busca da perfeição e do absoluto. O poeta sem medo da morte (tantas vezes anunciada) mas finalmente concretizada.
Cada leitor, se apropria da escrita de um outro, que deixou seus pensamentos para serem lidos. Cada leitor faz a sua leitura e sente diferente de um outro leitor. E agora quero aqui deixar este poema que, hoje, Portugal, 19 de Maio de 2014 me diz algo que me não disse noutros momentos da minha vida…
AQUELOUTRO
O dúbio mascarado o mentiroso
Afinal, que passou na vida incógnito
O Rei-lua postiço, o falso atónito;
Bem no fundo o covarde rigoroso..
Em vez de Pajem bobo presunçoso.
Sua Ama de neve asco de um vómito.
Seu ânimo cantado como indómito
Um lacaio invertido e pressuroso.
O sem nervos nem ânsia – o papa- açorda,
(Seu coração talvez movido a corda…)
Apesar de seus berros ao Ideal
O corrido, o raimoso, o desleal
O balofo arrotando Império astral
O mago sem condão, o Esfinge Gorda.