SOBRE O TEXTO DE RICARDO A MARX, DE MARX A RICARDO, SOBRE O LIVRO DE PIKETTY, SOBRE A DINÂMICA DAS DESIGUALDADES: ALGUMAS REFLEXÕES – por JÚLIO MARQUES MOTA

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Sobre o texto de Ricardo a Marxde Marx a Ricardo, sobre o livro de Piketty, sobre a dinâmica das desigualdades: algumas reflexões

21 de Maio de 2014

Parte III

(CONTINUAÇÃO)

Da resolução deste sistema, obtemos a expressão para Ca/L, ou seja, obtemos o valor ya que significa o produto líquido por trabalhador:

igualdade - VI

que é, no nosso caso, uma constante, expressa por Ca/L e que pode ainda ser vista pelo valor de w quando r é igual a zero, como se mostrou anteriormente. Graficamente vem:

igualdade - VII

Imaginemos agora que temos uma outra técnica admissível para produzir o bem b. Existem assim duas técnicas possíveis, as técnicas b1 e b2 que podem ser associadas, uma a uma, à técnica para produzir o bem a, gerando-se deste modo dois sistemas produtivos, diferentes entre si pela técnica utilizada para produzir o bem b. Sabemos já que cada par de equações nos dá uma configuração de preços e uma outra de volumes, que cada par de equações nos dá uma relação w(r) e uma relação pb[w(r)], combinações estas a que chamamos w1(r), quando dada pela técnica de a e pela técnica b1, ou seja, o par de técnicas (a, b1) e w2(r) quando dada por (a, b2). O mesmo se passa com a relação pb1[w(r)] resultante de (a, b1) e com pb2[w(r)] dada por (a, b2). Ambas as w(r) são equações de segundo grau em r.

Interroguemo-nos sobre se estas duas equações têm algum ponto comum. Se as duas soluções em r que verificam w1=w2 não forem significativas, as duas relações w(r) não se intersectam e uma delas domina sempre a outra. Graficamente, no caso abaixo a w1(r) é, por nossa hipótese, a função externa, ou seja, em que para cada valor de w é sempre o sistema ou a técnica escolhida porque permite um valor de r mais elevado.

Se as duas equações admitem uma só solução significativa para r, tal facto significa que as duas funções w(r) se intersectam uma só vez e se admitem duas soluções para r em que w1 = w2, então as duas curvas intersectam-se no primeiro quadrante em dois pontos de (r, w) se quisermos falar assim. As duas hipóteses são importantes e vamos vê-las uma a uma.

Hipótese 1: Há um só ponto de intersecção, ou seja, um só par (r e w) comum aos dois sistemas.

Situando a nossa análise em termos gráficos, relacionando salários e lucros, relacionando preços e taxa de lucro e relacionando produto por trabalhador e taxa de lucro será que o mercado, será que o sistema entregue às livres forças de mercado opta sempre pela técnica que maximiza o rendimento por trabalhador?

Para cada nível de salários superior ao indicado por we, o sistema de concorrência perfeita leva a que os empresários, com o critério de maximização da taxa de lucro, sejam levados a escolher o sistema com a técnica b1 e é este sistema que garante no mercado o preço relativo mais baixo. Porém, para salários mais baixos que o referente a we temos a técnica b2 a ser escolhida pelos empresários, porque é o sistema que maior taxa de lucro garante e esse é também o sistema que garante o preço mais baixo e inversamente para salários superiores a we em que será escolhida a técnica b1. Graficamente temos:

igualdade - VIII

No quadro dos sistemas de volumes teríamos dois sistemas de produção e de novo o produto líquido por trabalhador a não depender de qualquer coisa de vago, como a produtividade, como se a responsabilidade de se ter ou não um produto líquido por trabalhador mais elevado fosse dos trabalhadores, quando este depende afinal das escolhas técnicas e estas não só não são feitas por eles como também nem sempre são escolhidas as melhores, as geradoras de um maior produto líquido por trabalhador. Esta escolha tem apenas como parâmetro de decisão a mais elevada taxa de lucro e não um maior produto líquido por trabalhador. Trata-se de decisões estabelecidas pelos mercados antes portanto de entrar em jogo qualquer mecanismo de redistribuição do excedente criado.

(continua)

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Para ler a Parte II deste trabalho de Júlio Marques Mota,  publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:

SOBRE O TEXTO DE RICARDO A MARX, DE MARX A RICARDO, SOBRE O LIVRO DE PIKETTY, SOBRE A DINÂMICA DAS DESIGUALDADES: ALGUMAS REFLEXÕES – por JÚLIO MARQUES MOTA

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