MARCIA THEOPHILO
( 1941 )
MARACUJÁ
Ao chegar a noite, embalando-se
entre suas folhas longo-ovais
apaixonei-me quando a vi florescer
flores, estrelas vagantes,
vistosas hermafroditas, maracujá-cobra
maracujá amarelo, maracujá-açú
separou-se do seu caule, cilíndricodelicado
perde para sempre sua flor, as suas súplicas
não foram atendidas, coberta de folhas
verde som suave desaparece,
iluminando seus ramos, a flor
nos primeiros ritmos da manhã
entre tambores e canto de pássaros,
grilos. Morreu fazendo nascer o fruto
a floresta, abriu seu solo
e a recebeu em sua enorme boca
no Kulené, Grande Xingu
entre as ondas, as suas pétalas.
(de “Kupahreba”)
Poetisa e antropóloga. A floresta amazónica é o tema privilegiado da sua obra. Viveu em Itália, passando a produzir poesia bilingue. Publicou: “Catuetê Curupira” (1992), “Eu canto Amazonas” (1996), “I bambini giaguaro/Os meninos jaguar” (1995), “Amazonas canta/Amazon Sings” (2003).