GACELA DEL AMOR IMPREVISTO, de FEDERICO GARCÍA LORCA

(1898 – 1936)
Nadie comprendía el perfume
de la oscura magnolia de tu vientre.
Nadie sabía que martirizabas
un colibrí de amor entre los dientes.
Mil caballitos persas se dormían
en la plaza com luna de tu frente,
mientras que yo enlazaba quatro noches
tu cintura, enemiga de la nieve.
Entre yeso y jazmines, tu mirada
era un pálido ramo de simientes.
Yo busque, para darte, por mi pecho
las letras de marfil que dicen siempre,
siempre, siempre: jardín de mi agonía,
tu cuerpo fugitivo para sempre,
la sangre de tus venas en mi boca,
tu boca ya sin luz para mi muerte.
In Las Cien Mejores poesias de la Lengua Castellana, organização de Luis Alberto de Cuenca, Austral Poesía, 6.ª edição, 2007.
GAZEL DO AMOR IMPREVISTO

(1923 – 2005)
Ninguém compreendia o aroma
da escura magnólia do teu ventre.
Ninguém sabia que martirizavas
um colibri de amor entre os teus dentes.
Mil potros persas adormeciam
na praça lunar da tua fronte,
enquanto eu enlaçava quatro noites
a tua cintura, hostil à neve.
Entre gesso e jasmins, o teu olhar
era um pálido ramo de sementes.
Procurei, para te dar, no meu peito
as letras de marfim que dizem sempre,
sempre, sempre: jardim desta agonia,
teu corpo fugitivo para sempre,
teu sangue arterial na minha boca,
tua boca já sem luz para esta morte.
Tradução de Eugénio de Andrade
In Trinta e Seis Poemas e Uma Aleluia Erótica, Federico García Lorca, Editorial Inova Limitada,
Colecção As Mãos e Os Frutos, Porto, 1968.