Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
IRAQUE – O IRÃO ALIADO DOS EUA… DETECTEM ONDE É QUE ESTÁ O ERRO
O mundo árabe desestabilizado pelos erros dos americanos
Jean Bonnevey
Revista Metamag, 17/06/2014
O Irão, país que os EUA estavam a considerar bombardear ainda ontem, ao lado dos israelitas, é agora um país que se dispõe a ajudar os protegidos dos americanos em sérias dificuldades militares. Não se pode ilustra de maneira mais veemente uma grotesca e terrível situação que escapou completamente aos cenários desenvolvidos pelos estrategas do chamado imperialismo democrático.
Os americanos nunca tiveram uma boa leitura nas relações externas. Por detrás do terrorismo do 11 de Setembro, por detrás da guerra do Islão radical liderada pelo ódio da ‘civilização ocidental’, há uma guerra entre xiitas e sunitas muçulmanos. Os americanos, destruindo o Iraque de Saddam Hussein dominado pelos árabes sunitas, deram o país aos chiitas incapazes de manter uma unidade entre as componentes iraquianas. Aliado dos xiitas no Iraque, Washington tentou expulsá-los do poder apoiando-se uns tempos nos sunitas islâmicos da Síria. Esses islamitas estão hoje a tentar reconstruir um califado sobre os dois países para apagar as fronteiras traçadas pelos europeus em função dos seus interesses no momento. É uma ameaça que o Irão não pode aceitar.
Quanto à democracia, que tudo deveria resolver é inútil andarem a procura-la, ela não existe em lado nenhum. O Irão dos guardas da revolução islâmica, ao lado dos EUA contra o exército islâmico do Levante, é mesmo assim muito difícil de explicar à opinião pública dos diferentes países. A incoerência política e a cegueira ideológica está em vias de apresentar a factura, e esta será pesada para todos.
O Presidente dos EUA, que continua a proclamar que a página das guerras está já passada, encontra-se mais uma vez e de repente confrontado com as consequências das intervenções anteriores. Ninguém se imaginaria a rever os soldados norte-americanos em Fallujah ou em Tikrit, excepto numa missão de orientação dos drones. O Vice-Presidente Joe Biden, que é responsável pela gestão das relações com o governo xiita de Bagdade, chamou Nuri Al-Maliki para lhe dizer que os Estados Unidos estão prontos para acelerar e intensificar o seu apoio.” Quando ele era ainda candidato à Casa Branca, Biden tinha sido criticado por ter sugerido a partição do Iraque em Dezembro de 2006. Desde a tomada de Kirkuk pelos curdos no norte do país, a ideia ressurgiu nos media estadunidenses. Os “falcões” convencidos de que tudo isso poderia ser evitado com uma pequena força residual e que Barack Obama escolheu a completa retirada por razões eleitorais. John McCain “implorou” ao seu antigo rival para rever a sua decisão relativa à retirada do Afeganistão. Os “afegãos não têm meios aéreos. Por favor, mantenha uma pequena força no Afeganistão! ». Especialistas em política externa, acusam o presidente de ter, pela sua inacção na Síria, criado um vácuo que beneficiou o EIIL.
Enquanto se aguarda por uma decisão de Barack Obama, o secretário americano de defesa Chuck Hagel ordenou o envio de um porta-aviões para o Golfo, no caso de uma intervenção militar vir a ser necessária no Iraque, onde os jihadistas do Estado islâmico no Iraque e no Levant ameaçam Bagdade. Barack Obama agora enfrenta três desafios no Iraque. O primeiro é o de tomar medidas rápidas para parar o avanço dos jihadistas sunitas do EIIL a fim de os impedir de tomarem conta do Iraque e deste país fazerem uma base de apoio a partir de onde partirão os ataques para o exterior que poderão visar osa interesses americanos. Tais medidas estariam situadas na linha definida no mês passado pelo presidente americano na academia militar de West Point onde explicou que os Estados Unidos usarão a força quando os seus interesses estão ameaçados.
A médio prazo, os Estados Unidos devem igualmente assegurar-se que o Iraque não volte a mergulhar numa guerra civil entre xiitas e sunitas. A mais longo prazo, eles devem, finalmente, convencer os aliados do Iraque a inscreverem-se num processo projectado para manter a unidade do país e convencer o Congresso a votarem um plano de US $ 5 mil milhões para financiar a luta contra o terrorismo.
O antigo emissário internacional para a Síria, Lakhdar Brahimi, estima numa entrevista à AFP que a ofensiva Jihad no Iraque resultou da inércia da comunidade internacional sobre o conflito destruidor que se verifica na vizinha Síria desde 2011. “É uma regra bem conhecida: um conflito deste tipo (na Síria) não pode permanecer confinado dentro das fronteiras de um único país.” Infelizmente tem sido negligenciado o problema sírio e não se ajudou sequer a resolvê-lo. Este é pois o resultado. “Uma personalidade iraquiana disse em Novembro que o EIIL era dez vezes mais activo no Iraque do que na Síria. Eu mencionei isso para o Conselho de Segurança e nas minhas palestras, diz o veterano diplomata. Vizinho da Síria, com o qual partilha uma longa e porosa fronteira, “O Iraque foi como que uma grande ferida que se deixou infectar,” com o conflito sírio, diz ele.
Mas quem é que criou a ferida e nunca foi capaz de a tratar ?
Jean Bonnevey, IRAK: L’IRAN ALLIÉ DES USA… CHERCHEZ L’ERREUR- Le monde arabe déstabilisé par les erreurs américaines, Revista Metamag
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