
No passado dia 30 de Junho completaram-se 100 anos sobre a data de nascimento do escritor, activista político e professor Joaquim Namorado (1914 – 1986). Em sua honra transcrevemos aqui o seu poema “Fábrica”, publicado no Novo Cancioneiro, em 1941.
FÁBRICA, de JOAQUIM NAMORADO
Oh, a poesia de tudo o que é geométrico
e perfeito,
a beleza nova dos maquinismos,
a força secreta das peças
sob o contacto liso e frio dos metais,
a segura confiança
do saber-se que é assim e assim exactamente,
sem lugar a enganos,
tudo matemático e harmónico,
sem nenhum imprevisto, sem nenhuma aventura,
como na cabeça do engenheiro.
Os operários têm nos músculos, de cor,
os movimentos dia a dia repetidos:
é como se fossem da sua natureza,
longe de toda a vontade e de todo o pensamento;
como se os metais fossem carne do corpo
e as veias se abrissem
àquela vida estranha, dura, implacável
das máquinas.
Os motores de tantos mil cavalos
alinhados e seguros de si,
seguros do seu poder;
as articulações subtis das bielas,
o enlace justo das engrenagens:
a fábrica, todo um imenso corpo de movimentos
concordantes, dependentes, necessários.
In Aviso à Navegação, Arquitectura, incluída no Novo Cancioneiro (1941).
Este poema do Joaquim Namorado já tinha saído no Estrolabio, na secção VerbArte, em 25 de Junho de 2011. Vejam em:
http://estrolabio.blogs.sapo.pt/1590488.html