POR FAVOR, PARTA ENTÃO O VIDRO – COLECTIVO ANÓNIMO FAWKES

 Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

 Partir o vidro

Por favor, parta então o vidro

Sábado 16 de Fevereiro de 2013

Da impotência de quase todos e do poder de alguns. Pequeno guia autobiográfico do nada politico-filosófico…

 

Amigo (a)s, Bom-dia!

De acordo com a linha editorial deste blog multicultural de um nível raramente alcançado, é tempo para mim de vos fazer compreender, queridas leitoras, queridos leitores de todas os horizontes, de como é que a vossa existência cada vez mais sinistra corre o risco de se transformar em um pesadelo, de que não fazem a mínima ideia…

Meu caro amigo (s), colegas, camaradas, companheiros, de passagem desempregados, não estão vocês desconcertados pela:

Impotência dos políticos para enfrentar as crises económicas, para enfrentarem os dirigentes financeiros, a plutocracia, os lideres mediáticos e económicos, o fanatismo religioso face às crises sociais, aos desastres ambientais?

Impotência dos sindicatos, do militantismo, das lutas sociais, da escolha limitada feito uma vez por cada cinco anos da vossa delegação a um político mais ou menos de boa-fé e que se apressa em negar seus compromissos sem nenhuma hesitação ?

A impotência das forças armadas ocupantes face a todos aqueles que se revoltam e resistem  simplesmente  com fé aos invasores?

A impotência da UNICEF e da comunidade internacional para reduzir a fome no mundo, enquanto centenas de milhares de milhões são fornecidos para salvar os bancos ao mesmo tempo que é impossível encontrar 30 milhares de milhões para salvar um sétimo da humanidade ?

Impotência dos especialistas de todos os tipos, dos peritos em previsões de economia, dos sociólogos, dos economistas, jornalistas, dos blogueiros, uma vez que ninguém vê nada do que está para a acontecer?

Impotência dos partidos de esquerda em serem capazes de enfrentarem os dogmas supostamente intangíveis do capitalismo, da lógica de Tina (ou seja de que não há alternativa), o liberalismo louco, a ganância?

Impotência dos cidadãos face ao desemprego, às sucessivas baixas do poder de compra, às facturas cujo valor aumenta sucessivamente, face às várias leis e regulamentos, face às restrições das liberdades, face à ditadura dos meios de comunicação que impõem sempre as mesmas cabeças e a mesma ideologia?

Impotência das pessoas face às regressões sociais em todos os países que se alinham pelo chamado mínimo social ?

A impotência da China, este colosso com pés de barro assente sobre múltiplos excedentes financeiros e em que metade do seu povo está excluído do crescimento, chorando a miséria.

Impotência da França mantida assim por Bruxelas, apanhada na armadilha da globalização. Prisioneira de um sistema ideológico que estrangula lentamente.

Impotência dos intelectuais, filósofos, sociólogos cujos discursos críticos não nos levam a nada. Incapazes de construir um projecto consistente e criativo, incapazes de se dirigirem às pessoas com um vocabulário familiar, muito habituados a exprimirem-se diante de cenáculos reduzidos, face a velhos que arrotam com força e satisfação os termos incompreensíveis e herméticos com que falam.

Impotência da fauna e da flora para sobreviver à poluição humana?

Impotência face ao crescente sobrepovoamento nas cidades arrastando com isso a comportamentos sociais agressivos e à desertificação dramática da zona rural?

Impotência Face ao poder do dinheiro tomado como o verdadeiro rei que corrompe tudo de uma forma mais ou menos subtil de ganância, face à ganância, motor vicioso e ilusório da economia de hoje

Dom Quixote

Don Quichotte. dessin au lavis par Picasso (1947)

Impotência de uma parte da sociedade francesa, preocupada apenas consigo mesma e aterrorizada por tudo o que se move e não se lhe assemelha?

Impotência das palavras para expressar a sua cólera, a sua indignação, o seu sofrimento e desespero em face a medidas sociais desleais e injustas?

Impotência deste novo media que é a internet: a segmentação e dispersão de milhões de sites que entregam mensagens que atenuam o significado dos discursos. Da concorrência nasce a fragmentação e pior ainda, a atomização dos conteúdos. Demasiado material a dispersar o interesse e a audiência.

Impotência de compreender um mundo de complexidade sem precedentes cujas inúmeras interconexões estão para além de todos os velhos e simplistas esquemas existentes?

Por outro lado, não sejam atingidos pelo:

Crescente poder do dinheiro na tomada de decisões. A intrusão de corrupção sob várias formas (lobis, grupos de pressão, corporativismo) à escala mundial ?

Poder de persuasão dos chamados meios de comunicação ditos de massas, tais como televisão, rádio, imprensa escrita?

Poder de repressão e controle dos cidadãos por uma oligarquia que quer evitar o risco de toda e qualquer derrapagem social?

Poder dos mercados e dos bancos que controlam, graças a uma desenfreada especulação,  uma massa gigantesca de capital que representa talvez oito vezes o valor dos activos reais do planeta?

O poder dos religiosos que ditam aos rebanhos de gente sem coragem a sua interpretação dos dogmas e as suas concepções dos poderes espirituais e seculares?

Sim, como negar que nós caminhamos passo a passo, silenciosamente, em direcção ao totalitarismo “macio” ou “leve” que cada um de nós ou os nossos filhos não sairão ilesos a menos que obedeçam a um conformismo de cidadão-consumidor totalmente cretino e completamente desprovido de qualquer espírito crítico?

Por favor, parta então o vidro.

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