Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
Mais precários, menos produtivos. Assim Renzi afundará o País
Paolo Pini, temi repubblica.it/micromega
Più precari, meno produttivi. Così Renzi affonderà il Paese, 31 de Março de 2014
Parte I
Entre as muitas críticas que levantámos ao primeiro decreto sobre o Trabalho da era Renzi-Poletti (“dar crédito a Renzi?” e “erros e ilusões de Renzinomics”), queremos aqui regressar a uma crítica que me parece de particular relevância para os efeitos deletérios que a liberalização dos contratos a prazo é susceptível de produzir a médio e longo prazo para a economia italiana e para o trabalho em particular.
Trata-se dos efeitos sobre a produtividade do trabalho. É hoje muito bem conhecido o declínio da produtividade italiana que nos parece quase inútil voltar ao tema mas somos obrigados a fazê-lo precisamente por causa deste “terrível” decreto.
Vamos analisar os gráficos que se seguem, tratados no volume recente de Comito, Paci e Travaglini (Un paese in bilico, Ediesse 2014, pp.55-56).
O primeiro gráfico mostra de modo impiedoso a dinâmica da produtividade de trabalho na Itália nos últimos 30 anos. Por meados da década de 1990 reduziu-se o crescimento da produtividade em quatro vezes, de 1,65% para 0,39%. Uma redução bem conhecida por todos os que estudam os temas da competitividade, produtividade e dos salários.
Durante o mesmo período, a taxa de acumulação de capital, físico e imaterial, ou ainda a sua taxa de crescimento, diminuiu em oito vezes, como o mostra o gráfico abaixo. Passámos de um crescimento abaixo de 4%, para uma mísera taxa de 0,5%, com uma primeira fase em 2,6% ao ano a desmoronar-se desde a década de 1990 para 1,5% ao ano, antes da crise para nos levar, depois, à catástrofe do tsunami de 0.5.
O outro lado da moeda destas dinâmicas está bem contado pelo gráfico seguinte que representa a taxa de crescimento da intensidade de capital, ou seja, a relação capital-trabalho. Nos últimos 30 anos nós dividimo-la por 2, partindo de uma média de 2,1% ao ano até meados de 1990, para uma mísera taxa de 0,96% hoje.
Estas dinâmicas negativas da produtividade do trabalho, dos investimentos realizados pelas empresas e da relação capital-trabalho, são pois os resultados de um anulamento no crescimento da produtividade total dos factores, o factor de progresso tecnológico por excelência, que passou de um modesto 1% por ano na primeira fase para quase 0% na segunda fase, com um colapso negativo durante os anos de crise como relata o gráfico abaixo.
O que então foi marcante na década de 1990 e, em seguida, até aos dias atuais para induzir as empresas a parar de investir em ambos as coisas, na qualidade do trabalho e no progresso tecnológico? Entretanto muitas coisas se passaram mas duas delas são muito relevantes para a nossa análise: a moderação salarial e a flexibilidade no mercado de trabalho.
Em 1993 foi assinado pelos parceiros sociais e pelo governo um importante acordo que reformulou a contratação, definindo os dois níveis contratuais, o nível nacional e nível empresarial ou descentralizado. Enquanto que com o primeiro se devia garantir uma dinâmica salarial compatível com a redução da inflação (inflação programada), com o segundo ir-se-ia começar a percorrer um caminho virtuoso e participativo com os trabalhadores a fazer crescer os salários reais e a produtividade, inovando nas tecnologias, na organização do trabalho e na criação de produtos inovadores. O governo deveria apoiar essa mudança com políticas macroeconómicas e microeconómicas, com políticas de inovação e políticas industriais.
Nós sabemos como a história se passou. A moderação salarial foi criada, a inflação foi reduzida, a Itália entrou nos parâmetros da taxa de inflação esperada dos critérios de Maastricht e isto permitiu-lhe tornar-se membro da zona euro, embora com um efeito colateral “desagradável” — uma perda de 10 pontos percentuais dos salários no rendimento global, perda esta a favor dos lucros e das rendas, sobretudo destas.
Sobre o caminho virtuoso e participativa que aumentaria a produtividade e os salários reais com a inovação tecnológica e organizacional, nem mesmo a sombra disso mesmo se viu. Com efeito, as empresas pararam de investir seja na organização do trabalho (as “boas práticas” estas foram ignoradas!) seja nas tecnologias e os investimentos foram reduzidos).
(continua)
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