CELEBRANDO SOPHIA – 45 – por Álvaro José Ferreira

Nota prévia:

Para ouvir os poemas de Sophia (os recitados e os cantados), há que aceder à página

http://nossaradio.blogspot.com/2014/07/celebrando-sophia-de-mello-breyner.html

e clicar nos respectivos “play áudio/vídeo”.

 

Celebrando Sophia de Mello Breyner Andresen

Sophia - 1940

Sophia fotografada em 1940.

Capa do livro “Sophia de Mello Breyner Andresen: Uma Vida de Poeta” (Editorial Caminho, 2011), catálogo da exposição que esteve patente na Biblioteca Nacional, de 26 de Janeiro a 30 de Abril de 2011. «Na minha infância, antes de saber ler, ouvi recitar e aprendi de cor um antigo poema tradicional português, chamado Nau Catrineta. Tive assim a sorte de começar pela tradição oral, a sorte de conhecer o poema antes de conhecer a literatura. Eu era de facto tão nova que nem sabia que os poemas eram escritos por pessoas, mas julgava que eram consubstanciais ao universo, que eram a respiração das coisas, o nome deste mundo dito por ele próprio.»

Sophia de Mello Breyner Andresen (excerto inicial de “Arte Poética V”, in “Ilhas”, Lisboa: Texto Editora, 1989)

 

 

MAR SONORO

 

Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen (in “Dia do Mar”, Lisboa: Edições Ática, 1947; “Obra Poética I”, Lisboa: Editorial Caminho, 1990 – pág. 84)
Dito por Maria Bethânia* (in CD “Mar de Sophia”, Biscoito Fino, 2006)
Música: Sérgio Ricardo

 

Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

 

* Antônio Adolfo – piano
Direcção musical – Jaime Alem
Produção – Moogie Canazio e Ana Basbaum

 

Dia do Mar no Ar

 

Poema: Sophia de Mello Breyner Andresen (in “Coral”, Porto: Livraria Simões Lopes, 1950; “Obra Poética I”, Lisboa: Editorial Caminho, 1990 – pág. 166)
Música e arranjo: Abe Rábade
Intérprete: Joana Machado* (in CD “Travessia dos Poetas, Rosapeixe”, Nuba Records/Karonte, 2010)

 

Dia do mar no ar, construído
Com sombras de cavalos e de plumas

Dia do mar no meu quarto — cubo
Onde os meus gestos sonâmbulos deslizam
Entre o animal e a flor como medusas.

Dia do mar no ar, dia alto
Onde os meus gestos são gaivotas que se perdem
Rolando sobre as ondas, sobre as nuvens.

 

* [Créditos gerais do disco:]
Joana Machado – voz
Abe Rábade – piano
Pablo Martín Camiñero – contrabaixo
Bruno Pedroso – bateria
Tiago Schwaebl – flauta
Hugo Queirós – clarinete
Elsa Roch – oboé, corne inglês
Pablo Pascual – clarinete baixo
Ana Cláudia Serrão – violoncelo
João Moreira – trompete, flügelhorn (fliscorne)
Jesús Santandreu – saxofone tenor
Carlos Ariel – direcção
Gravado nos Boom Studios, Canelas – Vila Nova de Gaia, por João Bessa
Misturado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d’Arcos, por Nelson Carvalho Masterizado nos Impact Mastering Labs, Barcelona, por Álvaro Balañá

 

PROCELÁRIA

 

Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen (in “Geografia”: II – “Procelária”, Lisboa: Edições Ática, 1967; “Obra Poética III”, Lisboa: Editorial Caminho, 1991 – pág. 19)
Dito por Maria Bethânia* (in CD “Mar de Sophia”, Biscoito Fino, 2006)

 

É vista quando há vento e grande vaga
Ela faz o ninho no rolar da fúria
E voa firme e certa como bala

As suas asas empresta à tempestade
Quando os leões do mar rugem nas grutas
Sobre os abismos passa e vai em frente

Ela não busca a rocha o cabo o cais
Mas faz da insegurança sua força
E do risco de morrer seu alimento

Por isso me parece imagem justa
Para quem vive e canta no mau tempo

 

* Naná Vasconcelos – percussão
Direcção musical – Jaime Alem
Produção – Moogie Canazio e Ana Basbaum

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