SOBRE OS LEOPARDOS QUE QUEREM BEM SERVIR BRUXELAS – DA FRANÇA, FALEMOS ENTÃO DA POLÍTICA DE HOLLANDE. – A QUESTÃO THÉVENOUD: NO PAÍS DO CINISMO OS VIGARISTAS SÃO REIS – UM JOVEM LOBO DE DENTES COMPRIDOS PRESO EM PLENO VOO – por EMMANUELLE ORY-LAVOLLÉE

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 Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

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10. A questão Thévenoud: no país do cinismo os vigaristas são reis

Leopardo - XXII

A questão Thévenoud: no país do cinismo os vigaristas são reis

Um jovem lobo de dentes compridos preso em pleno voo

 

Após estudos brilhantes numa fábrica de gente bem-pensante e embasbacado pelos corredores dos gabinetes, depois pelos da assembleia, Thomas Thévenoud chega finalmente à frente do palco, graças a um golpe do seu valoroso Presidente e do seu Primeiro-Ministro. Para ele a glória e as honras, os prémios e os media … o poder, o verdadeiro, enfim.

Infelizmente para o nosso jovem altamente promissor neste país onde a desconfiança aumentou muito, uma preocupação de exemplaridade levou a maioria à qual ele pertence a fazer votar, com a fanfarra dos grandes media, uma lei para lutar contra os defraudadores de todos os tipos. E isso, a fim de apagar o traumatismo Cahuzac que continua a ser presente na memória de toda a gente e na sua em particular. Uma bela lição para o pessoal político que não seja irrepreensível como é-o o caso do Chefe do Estado. A eficácia da Alta Autoridade para a Transparência da Vida Pública já não tem de ser provada, pois que até já levantou esta lebre impressionante.

Um pouco tardiamente, é certo, este senhor cujas posturas intratáveis em face dos batoteiros são uma legião, foi apanhado com a mão no saco. No contribuinte lambda, a não-declaração, logicamente seguida do não pagamento, chama-se fraude. Mas é necessário dizer-vos, Senhor, que nessas gentes , não há vigarice, não senhor, há apenas negligência… ou “desenvoltura”, como o sublinhou-o Manuel Valls, que se irritou com isso[1].

É assim que se descobre que o nosso lamentado secretário de Estado, embora seja pouco conhecido, não era assim tão neófito nestas matérias. Já se tinha ilustrado pelos seus propósitos vingativos em relação aos pequenos espertos que se pretendem escapar ao imposto. Em desordem: como o relator do projecto de lei contra a fraude fiscal, Yann Galut, disse: “paguem os impostos sob arrependimento fiscal, porque a contagem regressiva vai começar e vai ser implacável, ou ainda em Junho passado, “a República exemplar, é o quê ? São os ministros que tornam público o seu património… é o reforço das sanções penais para os que defraudam ou que não cumprem os seus deveres fiscais”. Por último, a respeito de Cahuzac, na sua qualidade de membro da comissão de inquérito parlamentar: “Não compreendo este sentimento de impunidade, porque tudo acaba por se saber”

Mas, que importa este passo em falso: ele quer ficar na Assembleia! Algumas semanas à sombra do Palais Bourbon apagariam este lamentável seu esquecimento. Mas é aqui que a questão se torna complicada para o nosso servo. Não do ponto de vista jurídico: tecnicamente o seu regresso à Assembleia não levanta nenhum problema relevante. Com efeito, se a brevidade da sua passagem pelo governo não põe em causa a sua compensação como secretário de Estado, ela permite-lhe retomar o serviço na Assembleia sem ter de respeitar o prazo de um mês suplementar imposto aos Ministros que permanecem no lugar mais de 30 dias.

Não, é em termos de moral, de ética, de deontologia e em nome desta famosa exemplaridade – por detrás dela correm os nossos políticos sem nunca a conseguirem alcançar – como isto incomoda… Por todos os lados, há vozes que se levantam contra o seu regresso, desde amanhã na Assembleia. Mesmo no seu próprio campo, deseja-se dar-lhe lições de saber-viver parlamentar, nem que seja à custa de um lugar na Assembleia, embora à custa de um assento – uma legislativa parcial mostrar-se-á complicada para PS.

Mas tranquilizemos-nos para nossa distracção: mesmo se devesse, sob a pressão dos seus íntegros parceiros, abandonar também o seu posto, todos os títulos de glória alcançados não lhe seriam imediatamente apagados. Manteria, então o título e a glória de ser o mais efémero secretário de Estado da Vª República.

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[1] Com efeito Manuel Valls afirmou: “o comportamento de Thomas Thévenoud, os factos que lhes são criticados, a sua atitude, a sua desenvoltura fizeram mal à República, à França e à esquerda”. Fala-se, de facto,  em desenvoltura.

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Ver o original em:

http://www.causeur.fr/affaire-thevenoud-au-pays-du-cynisme-les-tricheurs-sont-rois%E2%80%A6-29125.html

 

 

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