No dia 28 de Março de 1810, no Pátio do Gil (à Rua de São Bento), em Lisboa, veio ao mundo uma criança do sexo masculino. Recebeu o nome de Alexandre. Alexandre Herculano. A sua infância e a adolescência decorreram numa época difícil – A Grande Revolução de 1789 ainda ressoava pela Europa, perturbando raciocínios e. As invasões francesas, a corte refugiada no Brasil, a tutela britânica, a Revolução Liberal, a guerra civil… Alexandre estudou no Convento das Necessidades, no Colégio dos Padres Oratorianos de S. Filipe de Nery, onde recebeu uma formação clássica – Latim, Lógica, Retórica. Estudou também inglês, francês, italiano e alemão, línguas que foram decisivas para a sua obra literária . Ou seja, por dificuldades económicas da família não pôde frequentar a universidade, mas adquiriu uma preparação cultural consistente.
Quando em 21 de Agosto de 1831 eclodiu em Lisboa uma revolta militar contra o governo de D. Miguel, o jovem, agora com 21 anos, aderiu e, fracassada a revolta, refugiou-se num barco francês ancorado em Lisboa. Conseguiu chegar aos Açores. Na Terceira, integrou-se no exército Liberal, sendo um dos 7.500 “Bravos do Mindelo”, nome dado à expedição comandada por D. Pedro que desembarcou, em 8 de Julho de 1832 na praia do Mindelo com o objectivo de cercar e tomar o Porto. Alexandre participou nos combates. Com a vitória dos Liberais na Guerra Civil, regressou à vida intelectual, sendo nomeado bibliotecário da Biblioteca do Porto e dirigindo depois em Lisboa a Revista Panorama. Mas em 1846 é publicado o primeiro volume da História de Portugal. A sua visão objectiva dos acontecimentos históricos, erradicando lendas e apoiando-se em fontes documentais, introduziu a historiografia científica em Portugal. O que logo o envolveu numa polémica com o clero e com os sectores intelectuais dominados pela Igreja – Não considerar como verdade histórica o Milagre de Ourique, segundo o qual Cristo apareceu a Afonso Henriques, provoca escândalo. Herculano ridiculariza o clero ultramontano nos opúsculos Eu e o Clero e Solemnia Verba. A sua argumentação serena e o avanço que a sua História de Portugal pressupõe para o universo intelectual do país abre-lhe as portas da Academia das Ciências de Lisboa em 1852, sendo encarregado do projecto de recolha dos Portugaliae Monumenta Historica, documentos valiosos dispersos pelos cartórios conventuais do país. A par da sua obra como historiador, escreveu Lendas e Narrativas, em cujos textos Herculano se debruça sobre vários períodos da historia hispânica da Idade Média. Em 1842 publicou Eurico o Presbítero, o primeiro grande romance histórico que se publicou em Portugal.
A sua grande rectidão moral obrigou-o a não aceitar homenagens e condecorações que a sua fama crescente ia justificando e, preferiu retirar-se da agitação e das intrigas da capital. Em 1867 casou com D. Mariana Meira e retirou-se para a sua quinta de Vale de Lobos. Quando o Imperador D.Pedro II do Brasil veio a Portugal em 1877, foi a Vale de Lobos visitar Herculano. Querendo retribuir a visita, o escritor veio a Lisboa. Uma pneumonia que contraiu na viagem provocar-lhe-ia a morte em 13 de Setembro de 1877.. Um homem de pequena estatura, fisicamente frágil, mas com um grande carácter e uma força de vontade ímpar. Para não falar na sua elevada inteligência e num saber que abriu novos caminhos no mundo cultural do seu tempo. Um gigante, o Alexandre.