EDITORIAL – O AUMENTO DA DESIGUALDADE, UM FENÓMENO PLANEADO

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A desigualdade está a agravar-se nos países que durante o século XX e no início do século XXI foram considerados como os mais desenvolvidos do planeta, os da Europa e da América do Norte. Após décadas em que esses países mais desenvolvidos conheceram um crescimento constante, e uma melhoria de bem-estar das suas populações, agora a sua governação parece  ser dominada por uma inversão nesse caminho. São alvo de medidas que se convencionou chamar de austeridade e que incidem em primeiro lugar sobre os rendimentos e as condições de trabalho, sobre as prestações sociais e os orçamentos dos serviços públicos, nomeadamente os de saúde, educação e segurança social. A principal razão invocada para esta mudança tão drástica é a existência de défices públicos, cuja existência se deverá, segundo os mentores destes programas, à grande despesa pública.

O agravamento da desigualdade corresponde claramente a um aumento da concentração da riqueza, e da precarização do trabalho. E simultaneamente tem ocorrido uma quebra no crescimento económico e no bem-estar das populações. Estes fenómenos estão relacionados entre si, e são o resultado de medidas concretas de política, o que os actualmente perto do poder não querem admitir. É evidente que põem em causa a vida das pessoas, não só dos países onde a austeridade é aplicada, como das que vivem no resto do mundo. São inúmeros os estudos, as reportagens, os elementos que demonstram estes factos. Factos estes que evidenciam o pouco interesse que os promotores da austeridade têm pelo bem-estar das populações governadas.

Tem-se tido como garantido, há muito tempo, que na Europa e na América do Norte se vive bem. E não se considera com a devida seriedade que as políticas ultimamente predominantes estão a causar graves prejuízos às respectivas populações, e quais poderão ser os efeitos desses prejuízos. A austeridade apenas beneficiou quem já vivia muito bem, que pôde passar a viver ainda melhor. A maioria das pessoas foi prejudicada. Contudo, tem falhado a todos os níveis a formulação de políticas diferentes. É verdade que os governos futuros, para merecerem o apoio das populações, terão de ter políticas radicalmente diferentes das que actualmente estão em aplicação, mas não bastará corrigir os desastres causados. É indispensável simultaneamente lançar novas formas de participação na política, em conjunto com a redefinição de prioridades no campo económico, que visem aumentar a produção. É necessário regulamentar o sistema financeiro, grande responsável pela crise, e que se persiste, no chamado arco da governação (que não existe só em Portugal, como é por demais sabido, mas pouco reconhecido), em considerar como intocável. São estas as bases essenciais para um programa de governo futuro, que realmente queira servir o povo.

 

 

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