EDITORIAL – POR UMA POLÍTICA DO LIVRO

Imagem2Em Espanha os editores pedem um Plano Integral de Fomento do livro e da leitura. O novo presidente da Federação dos Grémios de Editores, há dias eleito, no  seu discurso de tomada de posse,  queixou-se do desprezo governamental por um sector económica e culturalmente tão importante. Em Portugal, as razões de queixa dos editores têm, ao que julgamos saber, uma redobrada justificação.

Não apenas o actual governo, onde o desprezo institucional afecta tudo o que não seja pagar uma dívida que os portugueses não contrairam, incluindo sectores como os da Educação e como os da Saúde, não só esta gente que, capitalizando os erros do governo de José Sócrates, se guindou ao poder, mas de uma forma geral, todos os governos de Abril de 74 para cá, não deram ao sector do livro a merecida atenção. Dito assim, parece que os governos de Salazar e Caetano se preocuparam com o sector editorial e com a indústria livreira. E é mesmo isso que estamos a dizer – Salazar e Caetano preocuparam-se – criaram mecanismos de protecção aos livros que lhes interessava, através do Secretariado Nacional da Informação, e de repressão aos que lhes eram inconvenientes – a PIDE, a Comissão de Censura. Sabiam que dos livros vinha o perigo das ideias e a ditadura viveu meio século reprimindo ideias, criando um vácuo onde flutuavam as suas tautologias. O regime democrático extinguiu os mecanismos censórios e de repressão, mas não criou estruturas de apoio. O livro, passou de um pai castrador, repressivo e boçal, a um pai que o pôs na rua e lhe dá a liberdade dos sem abrigo.

A democracia vive, respira, através da difusão e do debate de ideias. O livro, seja sob que forma física se apresente, impresso ou digital, é a forma mais expedita de difundir ideias. Dar aos editores a liberdade de publicar o que queiram, não constitui solução. E não se pede apoio para tudo o que se publica, pois é óbvio que não faz sentido gastar recursos com livros que não contribuam para a difusão do saber e para o enriquecimento cultural de quem os leia. E quem decide o que deve ou não ser apoiado? Uma comissão onde haja representantes da APE, da SPA, da APEL e do Ministério da Educação e Ciência. Por exemplo. Apoiar anualmente a edição de 500 ou mesmo mil títulos que, não sendo de previsível êxito comercial, constituam um enriquecimento do património cutural do País, seria um passo importante. Estas tiragens seriam facilmente absorvidas pela rede nacional de bibliotecas.

Fernando Pessoa e José Saramago são duas “marcas” portuguesas que atravessam fronteiras e que prestigiam o País. Potenciar a o consumo interno e a exportação da criatividade literária ou do saber científico de portugueses, não tendo o eco mediático que o nome de Cristiano provoca, mas também sem implicar as verbas astronómicas que a imagem de Cristiano movimenta, cria raízes mais profundas, mais perenes – quase cinco séculos depois de Camões as ter escrito, as estrofes de Os Lusíadas continuam a sua viagem…

Uma política nacional do livro. A transformação de um adorno numa alavanca.

 

 

 

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