MITO & REALIDADE – Terror e Morte em Lisboa – 52 – por José Brandão

Mesmo com a questão entre republicanos e monárquicos, os acontecimentos de 19 de outubro não deixam de estar sujeitos às mais sinistras e confusas especulações.

Se por um lado é fácil encontrar indícios da cumplicidade dos monárquicos mesmo entre as suas hostes, também não é muito difícil detetar mostras de suspeição no seio das fileiras republicanas.

É verdade que jornais de confissão e de financiamentos monárquicos ou católicos promoveram campanha de envergadura, criando condições para a revolta contra o governo de António Granjo. Mas é também verdade que o movimento revolucionário de 19 de outubro de 1921 é de inspiração republicana e que pelo menos na sua fase preparatória estiveram envolvidos o Partido Democrático e a Maçonaria. Quer António Maria da Silva, ao tempo o mais importante dirigente dos Democráticos, quer Sebastião Magalhães Lima, grão-mestre do Grémio maçónico, não escondem esses envolvimentos e assumem-no sem problemas de maior.

E é também verdade que se vivia em Portugal uma situação política que – pela primeira vez na normalidade institucional da I República – não estava dentro do controlo do poderoso Partido Democrático.

Se é certo que o multimilionário monárquico Alfredo da Silva se põe em fuga na sequência dos acontecimentos de outubro de 1921, a mesma certeza se tem com a fuga do homem que assassinou Sidónio Pais, na estação do Rossio, em 1918. De facto, na tarde desse dia 19, quando toda a situação está já nas mãos das forças revoltosas, José Júlio da Costa é solto por um numeroso grupo de revolucionários civis, que se desloca ao manicómio Miguel Bombarda para o libertar. No dia seguinte é transportado para o Norte, num automóvel de um «conhecido revolucionário, sendo a gasolina, que foram quatro latas, fornecida pelo comando da Polícia, com a competente requisição assinada pelo conhecido comissário-geral major Carrão de Oliveira».

Perante tudo o que atrás fica dito, a que conclusão se pode chegar?

Há quem conclua que tudo o que aconteceu se ficou a dever «à exaltação ‘poética’ de ‘patriotas’ detentores do elixir milagroso para a coisa pública […] que ‘prepararam’ uma revolução republicana que é financiada por monárquicos de renome – capitalistas ambiciosos – e fomentada por jornais conservadores»

Há também quem desfeche que os chefes do 19 de outubro «são uns verdadeiros pulhas, uns histéricos da revolta, uns doidos e imbecis…», mas só responsáveis pelos assassínios «por deixarem à solta a canalha; mas nem eles tinham força para reprimi-la, nem lhes convinha fazê-lo, convinha-lhes mais amedrontarem a cidade, para melhor conseguirem os seus fins».

Afinal, muita opinião, mas poucas certezas.

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