III
(conclusão)
– Não nego que os papagaios tenham os seus encantos num lar sem filhos; mas olhem que os peixinhos encarnados também animam muito uma casa de jantar. – declarou uma senhora.
– Para meu gosto antes quero uma ave, seja ela qual for. – interrompeu uma outra. – Embirro com peixes desde que ia morrendo com uma espinha de sável atravessada na garganta.
– Pois eu, – afirmou por sua vez o meu velho amigo capitão de navios. – prefiro os dois géneros reunidos. Para mim não há como os peixes voadores.
– Uns peixes que saltam fora de água?
– Nem mais nem menos. Consegui uma vez apanhar um e trouxe-o à minha mulher; mas deu-nos muitos desgostos. Primeiro pusemo-lo numa gaiola. Voava como um louco para todos os lados e queria à viva força meter-se no caquinho da água. Percebemos que se sentia peixe e metemo-lo num aquário. Ao cabo de algum tempo sentiu-se pássaro e ia morrendo afogado. Tivemos que tirá-lo para fora e mandar fazer-lhe tracções rítmicas da língua no Instituto de Socorros a Náufragos. Lembrei-me então de adaptar à boca do aquário a gaiola depois de lhe ter tirado o fundo. Assim o animalzinho estaria à vontade e, como o outro diz, nos seus dois elementos. Pois o pateta nunca conseguiu perceber aquele dispositivo tão engenhoso. Enganava-se constantemente. Mergulhava na água quando lhe apetecia respirar e voava na gaiola quando tinha sede. Acabou por morrer e mandei-o embalsamar. Agora sim… O peixe voador nem parece o mesmo. Aos dias de semana está contentíssimo sobre um balouço que lhe arranjei no candeeiro da sala e, ao domingo, gostava que o vissem quando o levo a tomar banho no lago da Patriarcal…
29 de Abril de 1923
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