EDITORIAL – NORMAL?

Imagem2Tal como um amputado se habitua à prótese ortopédica, nós cidadãos de pleno direito, com os impostos em dia, cumpridores de leis com as quais muitas vezes não concordamos, respeitando hierarquias e atavismos que existiam quando chegámos ao mundo e para cuja implementação não fomos consultados, nós gente normal, por assim dizer, habituámo-nos a esta prótese tosca da democracia amputada, a esta coisa informe que é o aparelho de Estado e os demais poderes instituídos. Uma prótese pode ser necessária, mas não é normal ou só o é para quem não tem alternativa, para quem sem bengala cai ou sem óculos não vê. Para o coxo a bengala é normal, tal como os óculos o são para o míope.

A nossa democracia tem que se lhe diga. Basta analisar a situação no nosso país para depararmos com múltiplas anormalidades; se ampliarmos o campo de estudo à Europa, a lista de disfunções agiganta-se e se a análise engloba o planeta, o rol do que está mal é assustador. Em Portugal um primeiro-ministro que não sabe que os impostos, por mais injustos que sejam, são para pagar que ignora aquele artigo do Código Civil que diz que «a ignorância da Lei não aproveita a ninguém»; um líder da oposição que também tem um cadastro fiscal com falhas e que elogia o governo que pretende substituir e um presidente da República com um passado político duvidoso e uma capacidade cultural que nem duvidosa chega a ser, pois não há dúvidas quanto à sua iliteracia.

No mundo reina a anormalidade, com um estado a policiar o planeta e a destruir tudo o que possa pôr em risco a sua mafiosa hegemonia. Ninguém contesta essa recorrente ingerência em problemas internos de estados soberanos. E, na sombra, como um felino letal, outro estado onde impera o esclavagismo, espreita as debilidades do actual império para o substituir na liderança do planeta e impor à escala mundial a sua lei, a sua normalidade de pesadelo.

E nós aceitamos estas aberrações como sendo normais. Criámos regras, aprovámos constituições, códigos deontológicos, e documentos que vinculam todos os cidadãos… e depois entendemos que violar grosseiramente todos os princípios e todas as normas, é normal.  E o mundo vai transformando-se num imenso hospício de alienados. Normal?

 

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