Diz um dito que as Montanhas são barreiras, mas os rios caminhos. Ainda hoje, depois de dous séculos de transformações geográficas marcadas por grandes infraestruturas terrestres (barragens, pontes, vias férreas e estradas) quando percorremos a Península Ibérica de Norte a Sul ou de Sul a Norte percebemos contrastes fortes, mudanças evidentes de clima, paisagem, culturas agrícolas e mesmo modos das habitações, formas e agrupamentos das casas.
Há caminhos novos, alguns ainda em obra e caminhos feitos, que eram velhos quando Roma os aproveitou, mas não é surpreendente ao percorrê-los – e mais nas grandes mudanças de ciclo estacional – abandonar subitamente o inverno para entrar na primavera ao atravessar umas montanhas, ou que nos suceda passarmos dum morno estio a uma estação mais fria.
Mas e a contrário? que sucede quando percorremos a Península de Leste a Oeste ou de Oeste a Leste? Podemos viajar pelo norte das Montanhas Cántabras e ao sul delas do Ebro até ao Atlântico seguindo pelo Planalto norte os vales dos grandes afluentes do Douro. Podemos percorrer o Tejo de Lisboa até às abas manchegas do Sistema ibérico e pelo vale do Guadiana cara Toledo e o centro e daí baixar pelo Jucar até Valência.
Grandes espaços horizontais e passagens verticais em forma de grandes caminhos que foram configurando redes comerciais entre abastados núcleos urbanos, sub-espaços vilegos, e até uma rede de paragens estrategicamente situadas a distância de léguas e aproveitamento de jornadas.
O conjunto dos grandes planaltos definem ainda os territórios costeiros. Mas se divididos os planaltos pelos sistemas montanhosos (Cantábricos, Central, Ibérico, Sierra Morena e Bético) estão definidos pelas bacias dos grandes Rios que discorrem de Leste a Oeste: Minho, Douro, Tejo, Guadiana e Guadalquivir e pelo do Ebro que define claramente os outros espaços territoriais, culturais e históricos do Leste da Península.
Após o Ebro, os vales pelos Pirineos, continuam-se em paralelo e quase independentes uns dos outros, até as regiões francesas definindo também os velhos relacionamentos e espaços linguísticos e dialetais.
O território Português fica também dividido muito marcadamente pelo Tejo, a norte as montanhas galaicas, leonesas e os contrafortes mesetários, descem sobre as beiras numa sucessão de vales, ao Sul o território estende-se para Leste, sem acidentes geográficos que possam ser considerados barreiras.
A percorremos as bacias dos grandes sistemas fluviais da península, no espaço e no tempo, poderíamos constatar que os contrastes são menores, muito mais graduais; e que na Península Ibérica as separações políticas e a centralização são mesmo contrárias a uma lógica geográfica que ainda está presente na toponímia, folclore nos rasgos linguísticos dialectais, nos costumes, nos hábitos alimentares, nas respostas do homem a clima, terra e paisagem, presentes nas Regiões da Espanha e de Portugal.