NATUREZA DA RETOMA ECONÓMICA NO REINO UNIDO – por TEJVAN PETTINGER – III

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Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

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Natureza da retoma económica no Reino Unido

Tejvan Pettinger,  Nature of the UK economic recovery

Economics.help, 2 de Março de 2015 

(CONCLUSÃO)

O défice da balança corrente

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O Reino Unido teve um défice persistente  na sua balança corrente desde o princípio dos anos 80, assim talvez se possa dizer que não há aqui nada de novo em termos de mais preocupações.  Contudo, o défice da balança  corrente é uma indicação que a retoma da economia  é desequilibrada – assente nas despesas de consumo/importações e esforçando-se para crescer nas exportações. Uma  parte deste défice  é devida à recessão que a Europa está a atravessar  (o nosso principal parceiro  comercial). As exportações para os países não-UE são mais prometedoras.

Tipo de emprego. A queda no desemprego é sem precedentes para esta fase  do ciclo económico. O desemprego foi utilizado como um indicador de retardamento – levou muitos anos  para que a taxa de desemprego caia para os valores com que se iniciou a retoma em 1981. Contudo, o contra-ponto destes bons gráficos sobre o desemprego é que nós estamos a assistir a um  crescimento do trabalho temporário, de empregos em  part-time e de empregos de baixos salários.  Em particular, nós assistimos a um crescimento de emprego assente em  contratos de zero-horas[1] que deixam os trabalhadores sem nenhuma  garantia do emprego a tempo inteiro. Discutivelmente, nós estamos a assistir ao aumento dos níveis do sub-emprego, isto é , em que as pessoas trabalham , mas menos do que elas pretendiam– e que é visível  no crescimento dos salários baixos. Este é o outro lado do mercado de trabalho  flexível.

Receitas fiscais pobres. Apesar da recuperação económica, os rendimentos recebidos pelo governo via impostos não melhoraram tanto quanto era esperado. Isto é porque o crescimento do volume de pessoas a trabalhar com salários muito baixos limita as  receitas fiscais sobre rendimentos.

Quem ganhou com a recessão

Pensionistas. Os pensionistas constituem um dos grupos melhor protegidos. Graças ao sistema de  tripla garantia  do governo, as pensões comportaram-se melhor do que os  salários. A despesa em pensões feita pelo governo aumentou  14%, ou seja, cerca de  £1,100 por cabeça, desde 2010 (em The Economist (2))

Proprietários de habitação. Os proprietário foram um outro grupo a fazer muito bem com a retoma da economia. Os preços das habitações  aumentaram fortemente  desde 2010 e muitos proprietário estão a apoiarem-se calmamente  em grandes aumentos na riqueza (embora haja  uma grande disparidade regional com os preços da habitação que sobem muito  mais em Londres e para o sul do que nas outras áreas do norte). Além disso, os proprietários com hipotecas tiraram proveito das taxas de juro muitíssimo  baixas. Mesmo se os bancos não tivessem passado completamente o corte nas taxas de base para  os proprietários, as prestações sobre  hipotecas como uma percentagem do rendimento teriam caído.

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– melhorou os níveis de vida para aqueles que compraram casa própria.

Quem perde com a retoma

1. Aluguer das casas. O mercado imobiliário em forte crescimento, (em boom) conduziu a aumentos nos preços dos alugueres (especialmente em locais como Londres e sudeste). Este aumento no custo dos arrendamentos degradou as condições de vida, especialmente para os jovens que estão a viver sob a pressão dos salários muito baixos.  Com as hipotecas muito baratas, nunca terá havido tão bons tempos para comprar uma casa para habitação própria, mas para muitos jovens, o custo do alojamento é exorbitante. Consequentemente, está a crescer  a desigualdade da riqueza – uma desigualdade marcada frequentemente pela idade.

2. A recuperação aumentou a percentagem de empregos pagos a  baixos salários, com horários flexíveis e pouca ou nenhuma segurança no emprego. Sem dúvida é muito mais preferível do que estar sem emprego, mas está a contribuir para um mercado de trabalho a duas velocidades – aqueles que estão no  interior do sistema com bons contratos e aqueles que trabalham com  salários baixos e muito pouca segurança de emprego.

3. As pessoas com subsídios da Segurança Social que tem sido espremidas pelo congelamento das despesas públicas.

Tejvan Pettinger,  Nature of the UK economic recovery. Publicação autorizada pelo autor. Texto disponível em:

http://www.economicshelp.org/blog/13056/uk-economy/nature-of-the-uk-economic-recovery/

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[1] Nota de tradução. Nos contratos de trabalho ditos de zero-horas , não há nenhuma indicação de horários ou duração mínima de trabalho, nada disto é neles mencionado. Na Grã-Bretanha, há cada vez mais e mais trabalhadores a estarem  empregados sob o “contrato de zero-horas”, literalmente, “zero horas de contrato”. Um estatuto que encontra tanto sucesso como de controvérsia à volta dele.

Pensado para promover a flexibilidade do mercado de trabalho, o contrato de zero horas prevê  que o empregado esteja  disponível  a qualquer hora do dia. Na prática, os empregados são geralmente informados de uma semana para a outra, do número de horas a realizar e são convidados a estarem disponíveis à chamada , se necessário. Por cada hora de trabalho será pago o salário mínimo, ou seja de 7,30 euros. Por seu turno, o empregador não tem que garantir uma duração mínima de trabalho.

(2) – Ver em http://www.economist.com/news/leaders/21635021-britain-still-faces-big-fiscal-challenges-conservatives-have-wrong-plan-dealing

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Para ler a parte II deste trabalho de Tejvan Pettinger, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas vá a:

NATUREZA DA RETOMA ECONÓMICA NO REINO UNIDO – por TEJVAN PETTINGER – II

 

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