Hoje a Carta de Évora, de Joaquim Palminha Silva, chega-nos de uma forma incomum – em verso. Não é costume, mas… onde é que está escrito que as cartas não podem ser escritas sob a forma de poema?
Em busca do desejo perdido…
Desejar é ter o olhar parado
à espera do ABC da vida
e o coração encharcado
de angústia amanhecida.
*
Nunca adeus se diz
saudades do que passou
plantas de tenra raiz
a terra as secou.
Desejar doces raparigas
postas às suas janelas
costureirinhas com cantigas
do Fado nascido com elas.
Desejar coisas como água de cheiro
e peito de mulher onde a deitar
sob um luar sem parceiro
para fazer a morte tardar.
Vivo é o adeus dos que faltam…
Mas que desejam os mortos agora?
– Se de longe nos acenam
é porque estranham a demora?
Desejar que a sorte
para nós um dia corra
quando a rir da morte
o desejo já não morra.
Desejar sempre digo
a Évora retornado
quero morrer contigo
mortalhado no passado.