EDITORIAL – Dia das mentiras é sempre que um político queira

logo editorialUm de Abril, dia das mentiras, April fools’day, pesce d’aprile, poisson d’avril… Talvez pudesse ser o dia dos políticos, classe que faz da mentira a sua principal ferramenta. Ou daqueles profissionais da comunicação social que usam a ‘mentira conveniente’ como alavanca de ascensão na carreira. Ou ainda o dia dos historiadores falsários, que escrevem as «histórias oficiais». Ou seja, sugerimos à UNESCO, que gosta tanto de «dias mundiais», que proclame o dia um de Abril como o Dia Mundial da Aldrabice.

Atribui-se a Napoleão Bonaparte a definição segundo a qual a História é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo. Deve o historiador consultar as chamadas fontes primárias. Porém, quantas vezes as fontes primárias estão inquinadas. O registo histórico levado a cabo por um cronista contemporâneo dos acontecimentos, resulta em regra numa descrição favorável a quem paga ao cronista. A História é um repositório de mentiras ou de verdades manipuladas, se se preferir. Talvez ainda, lembrando Napoleão, um conjunto de verdades convencionadas,

Os políticos fazem dessa manipulação um instrumento de trabalho. A censura é uma das formas de manipular o registo dos acontecimentos – Salazar, discursando em 25 de Setembro de 1933 na inauguração do Secretariado da Propaganda Nacional, fez uma afirmação que em poucas palavras contém toda a filosofia censória. Politicamente, só existe aquilo que o público sabe que existe. Controlar a expressão escrita é uma preocupação recorrente do poder, político e religioso, tão antiga como a invenção da escrita. Mas há formas mais sofisticadas de controlar o fluxo da informação – uma formatação prévia da função que, sobrepondo-se ao código deontológico do jornalismo, ponha o censor dentro da cabeça do profissional da comunicação. Hoje, quando compramos um jornal ou ligamos um receptor de rádio ou de televisão, sabemos que o que nos vai ser comunicado, podendo não ser mentira, não é a verdade essencial.

Terminamos com um conselho que Millôr Fernandes nos deixa – «Jamais diga uma mentira que não possa provar».

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